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terça-feira, 15 de dezembro de 2015

A vida e morte de Khasiev: um agente russo infiltrado no Daesh

Magomed Khasiev (a.k.a. Yevgeny Yudin). - decapitado pelo Daesh em um dos últimos vídeos da maldita barbárie incontida promovida pelos fundamentalistas via Internet.

 Cenas dos piores capítulos da humanidade.

Este é o nome que instituiu uma polêmica na atuação do serviço secreto russo no cenário do combate contra o Daesh na Síria e no Iraque. Mas antes de discorrer sobre a vida e a morte de Khasiev, é mister uma breve introdução a temática, em homenagem aos novos leitores.

Ainda em Agosto de 2015, muito antes do atual status da campanha russa na Síria contra o Daesh, publicamos texto sob o título "Jihadistas para exportação - ou como o FSB tem enviado fundamentalistas chechenos para preencher as fileiras do ISIS". Baseado em informações de fontes abertas que bebiam da fonte do jornalismo investigativo de Elena Milashina, a publicação em questão destaca uma estratégia ardilosa do serviço secreto russo: incentivar os fundamentalistas chechenos ao êxodo mortal que engrossava as fileiras do Daesh.

Aqui faço breve pausa em ode à bravura de Elena Milashina.

Poucos tem a coragem de discordar crucialmente do pensamento dominante da Rússia vivendo lá. Não julgo nenhum sistema político/econômico/social perfeito, mas o direito de se levantar contra o sistema é necessário, quando este se revela injusto. Como já dissemos anteriormente, alguns corajosos padeceram ao tocar os mesmos sinos que Milashina ora retine poderosamente.

O raciocínio decorrente do estratagema adotado pelo FSB era um tanto óbvio, embora caótico e mal (cruel). Se você pode enviar seu inimigo ideologicamente motivado e perigoso para um mortífero exílio voluntário em um cenário de guerra, excluindo um pária agitador de seu estado federado separatista, você está se livrando de um problema.

Ainda não havia a intervenção militar russa na Síria quando tratamos do tema, o que decerto adiciona alguns graus de perversão ao contexto macabro que se deslinda: fundamentalistas chechenos (russos, de acordo com a federação) sendo enviados a guerra na Síria pelos meios do FSB, onde são posteriormente bombardeados pelo estado da arte da tecnologia militar russa.

Aparentemente o recrutamento de Khasiev pelo FSB seguiu a mesma lógica, com um final ligeiramente diferente.

Matérias do Daily Mail e do portal Catholic.org destacam a vida do agente morto em ação. Khasiev se tornou órfão aos nove anos de idade, sendo adotado por parentes chechenos. Aos 10 anos, se convertou ao islã. Estudou Direito. Em 2014, foi indiciado em uma investigação por posse de drogas e relações com traficantes. Supostamente Khasiev teria confessado em uma gravação ter feito um acordo com o FSB para evitar a persecução penal.

O jornalista russo Anton Naumlyuk relatou ao Daily Mail sobre Khasiev:

"...Anton Naumlyuk, a journalist from Radio Svoboda, said: 'In summer 2014 (he) was caught by FSB people having drugs on him. Khasiev was sent to ISIS via Turkey. From there he was in touch with the FSB and passed information about those who were intended to go to Syria - and who had already got there [...] The last time he passed information about a student of a medical college.'..."
 
 
Há também uma transcrição em inglês das últimas palavras de Khasiev antes de sua decapitação: 
 
"...During all this time I contacted FSB of Russia five times and passed information about six brothers. And when I contacted FSB the last time, I passed information about brother who studied in a medical institute.
 
During the last contact, Shamil [the fixer] told me to wait. And I understood that I had to wait for further instructions.But I couldn't w ait or pass information any further because I was caught and completely exposed by officials of the security service of the caliphate..."

Evidentemente é possível que a vida e morte de Khasiev sejam também um fruto da propaganda do Daesh, no intuito de desmoralizar o FSB. A antítese é possível, entretanto improvável diante do que se sabe historicamente sobre o desenvolvimento das ações do serviço secreto russo. Lietvinenko que o diga.

O portal russo Tass informa o ponto de vista do líder checheno Ramzan Kadyrov. Em resumo, é culpa da CIA e Khasiev não era um agente do FSB:

"...Magomed Khasiev’s murder is a propaganda campaign of the Satanic gang and its patrons from among the Western intelligence agencies. We have no grounds for saying that that he was an intelligence officer. There is every likelihood that he was lured into IS ranks by deceit," Kadyrov wrote on his social network page.

"Upon arrival, having seen the true face of bandits, he could - either privately or in a telephone conversation - to express his opinion about them. Probably, that was what cost Magomed his life. We may say with some degree of confidence that the CIA’s hand was at work here," the Chechen leader said..."

 
Várias foram as oportunidades em que me recordo de um dogma clássico da polemologia: a primeira vítima na guerra é a verdade. A verdade real sobre a biografia de Khasiev já está perdida na polêmica da nova guerra fria.

Eis uma verdade inquestionável, intocada pela guerra: em suas bárbaras campanhas midiáticas, o Daesh continua a chocar a civilização, promovendo uma odiosa retrospectiva das cenas dos piores capítulos da humanidade.

Fontes:

http://soldadodosilencio.blogspot.com/2015/08/jihadistas-para-exportacao-ou-como-o.html

https://www.catholic.org/news/international/asia/story.php?id=65711

http://www.mirror.co.uk/news/world-news/new-jihadi-john-isis-release-6943049

http://www.dailymail.co.uk/news/article-3344214/The-Russian-spy-beheaded-countryman-orphan-recruited-secret-service-caught-drugs.html

http://tass.ru/en/politics/841646

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