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quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

O estigma de Adléne Hicheur: um terrorista no Brasil?

No dia 8 de Janeiro de 2016 a Revista Época apresentou uma matéria exclusiva intitulada "Um Terrorista no Brasil", nomeando Adléne Hicheur. Diante do contexto internacional e dos eventos que se anunciam no Brasil, a matéria recebeu imenso destaque. Na esteira da publicação, uma enxurrada de notícias do portal G1, Folha de São Paulo, Estadão e da UOL perseguiram as sombras do passado de Hicheur.

Quem é Adléne Hicheur?

Adléne Hicheur tem 39 anos, é franco-argelino, doutor em física nuclear, especializado em partículas elementares, e detinha uma carreira destacada até 2009. Trabalhava no Centro Europeu para Física de Partículas em pesquisas relacionadas ao CERN/LHC - o grande colisor de hádrons. 

Hicheur: será um efêmero lapso de fundamentalismo - com tenebrosas consequências vitalícias?

A radicalização, o processo e a condenação

Hicheur foi condenado pela justiça francesa a cinco anos de prisão por planejar atentados terroristas, tendo cumprido sua pena, sendo detido em 2009 e libertado em 2012. As provas contra Hicheur decorreram de interceptações telemáticas realizadas pelos órgãos de persecução penal e contraterrorismo franceses. A acusação de planejar atentados terroristas foi fundamentada no fato de Hicheur ter frequentado fóruns na internet e se comunicado por emails sobre planos terroristas com aliciadores de fundamentalistas islâmicos relacionados a Al-Qaeda.

Carreira no Brasil

Aparentemente, a despeito de sua condenação por terrorismo na França, Hicheur gozava de prestígio junto a seus colegas do CERN, que teriam após sua soltura intermediado sua inclusão como pesquisador convidado no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas do Ministério da Educação do Brasil no início de 2013. O CBPF/ME é atualmente dirigido por Ronald Shellard. 

Diante de destaque inicial nas contribuições de Hicheur as pesquisas nacionais, e este passou a ser bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e posteriormente foi contratado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em um edital supostamente direcionado.

A detecção de Hicheur no Brasil

Um vídeo com baixa exposição na mídia brasileira, realizado por uma equipe de TV internacional em 2014 em mesquita situada no Rio de Janeiro, onde um homem não identificado que se encontrava no local demonstrava apoio veemente ao Daesh, acabou por indiretamente expor Adléne Hicheur as autoridades nacionais.

O curioso é que aparentemente Hicheur nada tem a ver com o fato, sequer estava no local no momento, embora o frequentasse por motivos óbvios - e presume-se que todos que por ali passaram acabaram investigados a seu tempo. 

E efetivamente o passado de Hicheur não resiste a uma pesquisa no Google para torná-lo um alvo tendente a ser investigado - é o estigma vitalício de sua potencialmente efêmera radicalização.

A repercussão oficial

A Folha de São Paulo publicou declarações de Aloísio Mercadante, atual Ministro da Educação, repercutindo a revelação do passado de Hicheur e sua atual posição na UFRJ:

"...É lógico que deveria ter sido bloqueado. Uma pessoa que foi condenada por prática de terrorismo não nos interessa para ser professor no Brasil. Não temos nenhum interesse nesse tipo de pessoa. [...] Devemos nos preocupar. Não consta que o Brasil seja alvo de ação de terroristas, mas podemos ser palco de uma ação terrorista. Especialmente num episódio como a Olimpíada [...] Acho que a universidade está aguardando medidas legais cabíveis e eu acho que procedem num caso como esse..."

Ao seu tempo, o Ministro da Justiça José Eduardo Cardozo se pronunciou:

“...Eu não posso dar detalhes daquilo que efetivamente se coloca, por isso a questão está sendo estudada do ponto de vista jurídico pelo Ministério da Justiça, pelo Itamaraty, pela Casa Civil para que possamos ter uma definição a respeito...”

A versão de Hicheur

O Estadão publicou trechos de uma carta atribuída a Hicheur, que apresenta sua denegação dos fatos que lhe foram imputados em relação ao terrorismo internacional fundamentalista, sendo o suposto destinatário da missiva a CBPF/ME:

"...Fui preso pela polícia francesa no fim de 2009 e a única justificativa de minha detenção foram minhas visitas aos chamados websites islâmicos subversivos. Fui privado da minha liberdade por dois anos apenas com base nisso. Nenhum outro elemento foi apresentado contra mim [...] a acusação não sustentou o caso com fatos e evidências [...]O caso foi fabricado, usando-se partes pinçadas de uma conversa virtual com o objetivo de mostrar que haveria uma tentação de considerar a violência como solução para conflitos internacionais em países árabes e muçulmanos como Iraque ou Afeganistão..."

O portal Opera Mundi da UOL publicou entrevista fantástica com Adléne Hicheur. Destaco um único trecho imputado ao franco-argelino:

“...Não há segredo em meu currículo. Eu cheguei ao Brasil com um visto válido, convidado por um centro de pesquisas. Meu caso é muito conhecido, é passado. Eu sou cientista mas eles me carimbaram como terrorista ao reciclar de forma vergonhosa uma história velha...”

Este é um ponto crucial em toda esta história.

O apoio de colegas brasileiros a Hicheur

Diante da polêmica envolvendo seu controverso passado exposta nacionalmente, os colegas brasileiros de Hicheur se manifestaram em seu apoio. Ronald Shellard afirma ter informado ao Ministério das Relações Exteriores dos problemas de Hicheur na época do convite do CBPF/ME:

"...Liguei para o Itamaraty e alertei sobre todos os fatos, porque não queria trazer um problema para cá. Ele veio por volta de 2013 e trabalhou dois anos aqui. Fez trabalhos relevantes e seu grupo estava muito satisfeito, tanto que depois conseguiu um emprego na UFRJ. Nossa posição é de que nos envolvemos com uma pessoa cujo desempenho era elogiado aqui e no Cern [...] Há coisas sobre as quais não se faz alarde, mas que também não se escondem. Agora, com a exposição na mídia, ele está numa posição complicada [...] O Adlène tornou-se um caso célebre porque as evidências (da prisão) foram baseadas apenas na internet. As acusações só foram formuladas na época em que foi solto, aí houve um julgamento sobre a pena que ele já tinha cumprido..."

O coordenador de Física Experimental de Altas Energias do CBPF/ME, Ignacio Bediaga, defende Hicheur:

"...Durante esses quase dois anos de trabalho conjunto, o dr. Hicheur, além de realizar um trabalho excepcional, mostrou um comportamento moral e ético exemplar, bem como uma grande disponibilidade de colaborar com o grupo [...] A perda de um pesquisador fora de série, como o Adlene, irá prejudicar em muito o andamento das pesquisas que estávamos desenvolvendo dentro da cooperação científica que temos com o Cern...”

Não se pode alegar surpresa...

O notório portal especializado em inteligência Stratfor publicou no longíquo dia 21 de Outubro de 2009 matéria intitulada The curious case of Adléne Hicheur, da qual cito breves trechos:

"...According to French authorities, the network's demise led Hicheur (who was already being monitored by French authorities) to establish contact over the Internet with members of AQIM, al Qaeda's North African franchise. He reportedly communicated with AQIM using encrypted e-mails sent under a pseudonym, but the security measures were apparently foiled by the French authorities, who may have planted software on Hicheur's computer that allowed them to see his encrypted messages.[...]

According to French Interior Minister Brice Hortefeux, after monitoring Hicheur's communications with AQIM for some time, French authorities determined that he posed a threat and decided to arrest him. Hortefeux would not provide a list of targets Hicheur was apparently planning to attack, stating only that "the investigation will reveal what were the objectives in France or elsewhere." Thus far, it has not been shown that Hicheur posed an imminent threat, but it is unlikely that authorities would have arrested Hicheur unless they were sure they had enough evidence to prove the case against him in court. Some of this evidence may have been linked to a large withdrawal of cash Hicheur recently made from a bank account. Halim Hicheur has told the press that his brother had withdrawn 13,000 euros (about $19,500) to buy some land in Algeria, and he believes that the French government mistakenly thought the money was going to support AQIM.

While the French government has officially refused to discuss the potential targets Hicheur reportedly discussed with AQIM, the European press has been filled with such reports. According to the British newspaper The Telegraph, Hicheur had discussed conducting a bombing attack against a refinery belonging to the multinational oil company Total. (While a refinery may seem like an ideal terrorist target, causing substantial damage at such a physical plant is more difficult than it would seem — especially with a small improvised explosive device. Refineries often experience accidental fires or small explosions, and those events rarely affect the whole facility.)..."

O jornal britânico Daily Mail também noticiava com alarde sobre as ligações terroristas de Hicheur em 11 de Outubro de 2009. A matéria era relacionada a prisão/acusação que pesava sobre Hicheur e a seus trabalhos no Rutherfor Appleton Nuclear Research Centre, sendo intitulada "Fears Al Quaeda-linked scientist was planning nuclear attack on UK after MI5 learn he worked at top-secret British lab":

"...A brilliant young nuclear scientist who was arrested in France last week over alleged links to Al Qaeda had worked for a top-secret British nuclear research centre. Last night fears were growing that Dr Adlene Hicheur – who was a researcher for the Rutherford Appleton Laboratory in Oxfordshire for a year – could have been planning a nuclear attack in the UK.

The French government said yesterday that the arrest of Hicheur, 32, and his brother Dr Halim Hicheur, 25, could have averted a terrorist atrocity. They were seized after an 18-month investigation by French anti-terrorist police hours before Adlene Hicheur was due to travel to the laboratory where he now works at, CERN, the European Organisation for Nuclear Research near Geneva..."

Uma breve opinião

Se há algo que é imanente e indiscutível nas variadas teorias da Atividade de Inteligência, trata-se do caráter preditivo/preventivo que perpassa suas ações e objetivos. 

Independentemente do nível de eficácia da ressocialização posterior à pena cumprida e do arrependimento do condenado, tudo sobre Adléne Hicheur no Brasil poderia não ter acontecido por um único aspecto: o caso envolvendo o brilhante cientista era há muito tempo mundialmente conhecido. 

Se as autoridades brasileiras pretendiam evitar o risco, deveriam ter analisado as premissas de contratá-lo sob as condições que estavam postas e informadas, conforme Shellard ratifica. A oratória reacionária de Mercadante é no mínimo demagogia barata diante do desinvestimento imposto pelo governo as atividades de inteligência desta nação, que sequer conseguem a autorização para contratar em concurso público de provas e títulos há anos. Permanecemos estagnados com porosas e descontroladas fronteiras, sofremos com a falta de consciência situacional das autoridades políticas e em estado de penúria na Atividade de Inteligência.

Como todos nós, Adléne Hicheur fez uma escolha na vida que lhe imputou pesadas consequências. Do que se tornou público do processo judicial em que foi condenado, Hicheur, em determinado momento, escolheu um caminho de radicalização terrorista. Seu intento cognitivo preparatório foi devidamente rechaçado pela força da atividade de inteligência e da lei francesa. A França leva a sério a Atividade de Inteligência.

Parece verdade que Adléne Hicheur tenha se arrependido de sua potencial e efêmera radicalização. Mas permanecerá estigmatizado, escravo da falha em sua biografia, embora já tenha cumprido suas sentença judicial e seja incontestável sua competência como cientista. 

O julgamento social dos homens é decerto mais severo, preconceituoso e desproporcional que as penas impostas pela lei. Hicheur deveria ter considerado tal fato quando cogitou comunicar-se com terroristas fundamentalistas em fóruns da Internet, onde elucubrava fantasias de esvaziar o sangue de nações infiéis.

Fontes:

http://epoca.globo.com/tempo/noticia/2016/01/exclusivo-um-terrorista-no-brasil.html

http://oglobo.globo.com/mundo/professor-da-ufrj-investigado-por-terrorismo-elogiado-por-colegas-18446526

http://atarde.uol.com.br/brasil/noticias/1738771-em-carta-fisico-da-ufrj-nega-laco-com-terrorismo

http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2016/01/1728373-mercadante-diz-que-brasil-deveria-barrar-fisico-que-falou-em-atentados.shtml

http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2016/01/brasil-estuda-o-que-fazer-com-franco-argelino-condenado-por-terrorismo.html

http://epoca.globo.com/tempo/noticia/2016/01/professor-condenado-por-terrorismo-foi-unico-candidato-em-concurso-da-ufrj.html

http://operamundi.uol.com.br/conteudo/reportagens/42948/adlene+hicheur+estou+sendo+cacado+pela+midia+por+um+crime+que+nao+cometi.shtml

http://www.dailymail.co.uk/news/article-1219569/Revealed-Al-Qaeda-suspect-worked-UK-laboratory.html

https://www.stratfor.com/weekly/20091021_curious_case_adlene_hicheur

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

PF prende contrabandistas de pedras preciosas... e urânio!

Na última semana a Polícia Federal realizou a "Operação Soldner", no combate a uma quadrilha internacional de contrabando de recursos minerais sediada no Brasil, dentre os quais pedras preciosas e urânio. É o destaque de matérias do G1, Veja, Estadão, dentre outros.

Recentemente tratamos sobre a porosidade das fronteiras na América Latina.

Aparentemente um dos líderes da organização criminosa é o alemão Heiko Helmuth Emil Seibold, radicado em Goiânia, casado com uma brasileira. 

O curioso é que Seibold já apareceu há muito tempo nos radares da inteligência e segurança nacionais. Foi acusado de recrutar brasileiros como mercenários para empreiteiras de segurança em zonas de conflito no já longínquo 2005, juntamente com outro alemão, Frank Guenter Salewski. O destino dos mercenários tupiniquins era  a então pujante guerra no Iraque.

Semiótica holywoodiana para mercenários...

Eis o trecho da matéria do G1:

"...A organização criminosa é dividida em dois grupos. O primeiro era responsável pela comercialização ilegal das pedras preciosas. Já a outra parte seria composta por autônomos e pequenos empresários que comercializavam, mediante fraude, títulos da dívida pública e moeda estrangeira, em transações financeiras envolvendo bancos venezuelanos. Os investigadores suspeitam que o comércio de moedas e títulos estaria vinculada à lavagem de dinheiro do grupo...."

Eis trecho relevante da matéria da Veja:

"...No decorrer das investigações, os policiais federais descobriram que, além das remessas do minério, a organização também era especializada em enviar pedras preciosas, principalmente diamantes. Os carregamentos eram enviados para Europa e de lá eram distribuídos para Israel e Dubai. A quadrilha era sediada em Goiânia com filiais em Minas Gerais, Distrito Federal, São Paulo, Pará, Pernambuco e Tocantins.

Dos acusados que tiveram a prisão temporária decretada, cinco foram detidos e outros cinco estão foragidos. Entre os que são procurados há dois estrangeiros: o marroquino com cidadania francesa Baruk Pilo e o alemão Heiko Helmuth Emil Seibold, que é casado com uma brasileira e mora em Goiânia. Os nomes e as fotografias da dupla foram enviados para a Interpol para que uma ordem de captura internacional seja expedida..."

Obviamente a simples menção a palavra "urânio" no mesmo contexto de "contrabando" e "terrorismo transnacional" conclama grandes atenções da mídia. Entretanto, as aplicações militares da exploração de urânio não se limitam unicamente a complexa produção de artefatos nucleares - o urânio empobrecido já foi amplamente utilizado em blindagens e projéteis de alta perfomance, por exemplo.

Se o interesse específico era o urânio com finalidades nucleares de enriquecimento, creio que o destinatário final não seriam organizações terroristas, mas sim nações que pleiteiam tecnologia nuclear e sofrem embargos à aquisição das matérias primas. 

Outro destaque interessante nas matérias é a referência a um esquema que traficava tantalita por conexões escusas na Bolívia e na Venezuela. Outro mineral com largo emprego militar em equipamentos de engenharia complexa - aparentemente, não faria muito sentido para organizações terroristas. Os bárbaros do Daesh, por exemplo, demandam emprego imediato de meios, não desenvolvimento científico de longo prazo em ligas metálicas especiais.

Diante de tais reflexões, que decerto caracterizam como hipóteses, a operação da quadrilha de Seibold soa muito mais como uma covert action de algum serviço de inteligência adverso, empregando um tradicional mercenário como cabeça de ponte, do que qualquer outra coisa...

No Brasil temos excelentes profissionais de inteligência e segurança, qualificados e capazes para o cumprimento adequado da missão - mas aqueles burocratas que detém os fatores reais de poder insistem em não empoderar tais serviços com recursos humanos, materiais e legais adequados as suas funções precípuas. 

Há pelo menos 15 anos ininterruptamente Seibold, Salewski, Pilo e outros tantos eventuais associados podem exercer seus negócios suspeitos no Brasil, com parcos controles. Aparentemente, Seibold não se sentiu incomodado mesmo depois de ter sido investigado em 2005, certo?

Até que ponto temos condições efetivas de monitorar as ações e empreendimentos suspeitos de estrangeiros em nossa continental nação?

Ainda mais premente questionar: até que ponto há interesse em criar condições de trabalho para os serviços de Inteligência e Segurança no Brasil?

Fontes:

http://soldadodosilencio.blogspot.com/2015/11/risco-iminente-porosidade-dos-controles.html

http://g1.globo.com/goias/noticia/2015/11/pf-combate-comercio-ilegal-de-pedras-preciosas-em-go-df-e-5-estados.html

http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/policia-federal-desmonta-quadrilha-especializada-em-contrabando-de-uranio/

http://brasil.estadao.com.br/noticias/geral,pf-apura-trafico-de-uranio-para-grupos-extremistas,10000003033

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft0802200507.htm

domingo, 29 de novembro de 2015

Reações russas após bombardeiro SU-24M da VKS ser abatido pela Turquia

Há uma frase clássica que costuma vez ou outra se repetir para quem se dedica intelectualmente a polemologia e as relações internacionais em geral: "faltou combinar com os russos".

Potencialmente, a Turquia há de se arrepender de não ter alcançado um panorama exequível de tolerância as operações aéreas russas na Síria - o dia 24/11/2015 não será comemorado no futuro da Turquia.

SU-24M -  Oleg Peshkov (morto em ação) e Konstantin Murahtin (resgatado) integravam a tripulação abatida.

Abater uma aeronave de guerra de uma superpotência em ordem de batalha não é, definitivamente, uma conduta razoável, ainda mais se há dúvida se houve ou não violação do espaço aéreo turco. Pelo que se pode saber, a operação russa em questão evidentemente não iluminava nenhum alvo turco, e considerando a hipótese de ter eventualmente invadido o espaço aéreo de soberania turca, não se destinava propositalmente a tal finalidade.

É fato incontroverso, entretanto, que já houveram incursões aéreas da VKS no espaço aéreo turco, que foram admoestadas publicamente por Erdogan e seus pares. Em tais eventos, após demonstrar certa contrariedade/resistência, a Rússia apresentou desculpas públicas, justificando-os por questões climáticas na região da base de Latakia, que fica a aproximadamente a 30km da fronteira sírio-turca. A Turquia é estado membro da OTAN e se opôs a presença russa na Síria.

Ainda mais incontroversa é a premente necessidade internacional de não escalar tensões no multipolarizado e fragmentário cenário de guerra na Síria. Após os últimos eventos de terrorismo sob o patrocínio do Daesh, a crise entre a Rússia e a Turquia não poderia ocorrer em pior momento.

O presidente russo Vladimir Putin promoveu um duro discurso contra a ação turca:

"...Turkey backstabbed Russia by downing the Russian warplane and acted as accomplices of the terrorists [...] The plane was hit by a Turkish warplane as it was travelling 1 km away from the Turkish border [...] The plane posed no threat to Turkish national security, he stressed.

Putin said the plane was targeting terrorist targets in the Latakia province of Syria, many of whom came from Russia. Russia noticed of the flow of oil from Syrian territory under the control of terrorists to Turkey [...] Apparently, IS now not only receives revenue from the smuggling of oil, but also has the protection of a nation’s military, Putin said. This may explain why the terrorist group is so bold in taking acts of terrorism across the world..."


A OTAN demonstrou apoio formal a integridade do território turco - e embora não condene publicamente demonstra preocupações quanto a ação orquestrada pela Força Aérea Turca. O porta-voz da coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos da América no cenário de batalha sírio, Steve Warren, declarou a Reuters:

"...Despite Turkey being a NATO member, the US military spokesman said the downing of the Russian warplane is an issue to be settled between Ankara and Moscow. "This is an incident between the Russian and the Turkish governments. It is not an issue that involves the [US-led coalition operations]. Our combat operations against ISIL (IS, ISIS) continue as planned and we are striking in both Iraq and Syria..."


A resposta militar russa não tardou. Foi anunciado que todos os bombardeios da VKS contaram com escolta de caças, o que não ocorreu na missão do SU-24M particularmente atingida. Segundo matéria do portal Janes.com, a Rússia despachou para apoiar as operações aéreas na Síria baterias do avançado sistema antíaéreo S-400, além do cruzador Movska, que navegará na costa síria próximo a base aérea de Latakia:

"...The S-400 is Russia's most modern long-range SAM system, capable of destroying air-breathing threats at ranges of up to 400 km and ballistic missile targets at shorter ranges. Meanwhile Moskva is armed with a navalised version of the S-300 SAM - the S-300F Fort (SA-N-6 'Grumble') - which has a range of 150 km. Shoigu said the SAM system and the Moskva would be "ready to destroy any air target posing a potential threat to our aircraft..."

S-400 surface-to-air missile - SAM

Muito além das duras palavras e do consistente reforço militar, Putin também impôs medidas econômicas contra a Turquia, além de recrudescer questões diplomáticas relativas a concessão de vistos e alertas genéricos ao turismo.

Conforme o politizado portal russo Sputnik, em discurso no sábado, Recep Tayyip Erdogan teria se desculpado pela ação que culminou no abate da aeronave russa:

"...Este incidente nos incomoda muito. Eu realmente espero que isso não aconteça de novo. Vamos discutir esta questão e encontrar uma solução. Na segunda-feira, Paris será o anfitrião da cimeira do clima internacional, isso poderia ser uma oportunidade para restaurar as nossas relações com a Rússia..."


Matéria replicada pelo Jornal do Brasil retrata as reações de autoridades do Kremlin, dentre as quais as palavras do chanceler russo Serguei Lavrov, de que a Rússia não pretende retaliar militarmente a Turquia, mas realizar a reavaliação de todas as iniciativas bilaterais entre os países.

A crise protagonizada pela Turquia contrasta com a postura de Israel sobre a missão militar russa na Síria. Logo no início das operações militares, houve um protocolo militar conjunto de mais alto nível entre a Rússia e Israel, quando em 22/09/2015 destacamos na postagem então realizada:  

"...na esteira dos fatos, exsurge nas últimas horas a notícia de que Israel e Rússia coordenarão esforços para militares na Síria, com o intuito de evitar confrontos desnecessários..."

Desde então, conforme muito bem ilustra o excelente blog Cavok, houve incursões aéreas da VKS no espaço aéreo de Israel. Dentro de um determinado protocolo conjunto, não houveram incidentes graves.

Cada vez mais o teatro de operações na Síria se assemelha aos paradoxos dos conflitos secundários da Guerra Fria, em sua nova e soturna versão, fermentada pelos bárbaros fatores de desequilíbrio que se impõe com a existência do Daesh.

Fontes:

http://soldadodosilencio.blogspot.com.br/2015/09/dos-movimentos-russos-no-oriente-medio.html

http://www.janes.com/article/56252/russia-responds-to-turkish-su-24-shootdown

http://www.jb.com.br/internacional/noticias/2015/11/25/chanceler-russo-descarta-guerra-com-turquia/

http://www.jb.com.br/internacional/noticias/2015/11/25/nyt-putin-considera-se-apunhalado-pelas-costas-apos-queda-do-aviao-pela-turquia/

http://brasil.elpais.com/brasil/2015/11/24/internacional/1448377206_491380.html

https://www.rt.com/news/323240-russia-turkey-warplane-downed/

http://br.sputniknews.com/mundo/20151128/2909602/presidente-turco-pede-desculpa-a-russia.html

http://www.cavok.com.br/blog/russos-invadiram-o-espaco-aereo-de-israel/

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Risco iminente: A porosidade dos controles e fronteiras da América Latina


Eminentemente preditiva por natureza, na atividade de inteligência é imprescindível analisar riscos com fito a mitigar ameaças. Desconheço quem diga o contrário.

 Tríplice fronteira: tem gente que acha que o Brasil só tem uma...

Análise de riscos constitui uma importante ferramenta para a mitigação de ameaças e obviamente não é uma ciência exata em nenhuma esfera de atividade do ser humano. Riscos, ainda que minimizados pelos múltiplos fatores incidentes em sua análise ponderada, não devem ser ignorados pelos decisores. 

Mormente por questões culturais, não há uma cultura difundida de contigência e mitigação de ameaças baseadas em metodologias de análise de risco no Brasil, embora haja um incremento nos últimos anos nas ciências relacionadas a administração para a adoção de tais boas práticas. Pois bem. Se na iniciativa privada, marcada pelo dinamismo da sobrevivência mercadológica ainda não temos uma cultura de análise e mitigação de riscos estabelecida em sólidos alicerces, quiçá na burocrática (viés pejorativo) e por vezes esquizofrênica Administração Pública...

Eis o ataque assertivo ao ponto crítico: há um risco iminente, óbvio e diário em nosso subcontinente, que não se limita as questões que asseveramos em recente postagem sobre o "governo de conto de fadas" que vivenciamos - trata-se da porosidade dos controles e fronteiras da América Latina, agravada pela parca/inexistente atuação conjunta dos potenciais controles de segurança e inteligência entre as nações.

Os princípios que fundamentam a presente análise estão postos diante dos olhos de todos. As questões geográficas e biológicas não demandam sequer explicação, basta a mera lembrança: há fronteiras extensas e despovoadas, em biomas com condições severas (selvas tropicais, desertos de altitude, planícies alagadas, pampas patagônicos...). Questões políticas entre as nações sulamericanas não contribuem sobremaneira: multiplicam-se conflitos ideológicos, e há ainda episódios de conflitos territoriais (v.g.: Essequibo), além da incompetência, corrupção e complacência amplamente disseminadas em estruturas institucionais (quando existem).

Diante de tais premissas ao argumento central, resta patente que não se trata de casuísmo - mas é ainda necessário descer a concretude de alguns casos recentes. Brevíssimo emprego de fontes abertas demonstrará o plano geral a pertinência da análise ora conduzida, em sucinta lista:
  1. A Reuters destaca o tráfico de seres humanos (no caso concreto, Sírios em busca de refúgio) em uma rota que perpassa praticamente  toda a América Latina e o Caribe (Brasil inclusive!). Aparentemente, foram detidos por acaso: faltou um registro de vacina de febre amarela.
  2. O portal Terra informa que uma das suspeitas de perpetrar atentados na França passeou recentemente pelas terras sulamericanas, inclusive causando problemas. Sim, passou impune e livremente pelo paraíso tupiniquim.
  3. O El Deber boliviano e o G1 afirmam que três australianos tentaram ingressar em voo da Gol Linhas Aéreas com explosivos em sua bagagem de mão. A origem do voo era Santa Cruz de la Sierra, enquanto o destino era o aeroporto de Guarulhos/SP. O controle que detectou o fato ocorreu no aeroporto de Viru-Viru. Fosse despachada a bagagem, o que presume-se ter ocorrido no atentado contra o avião russo na península do Sinai, restaria improvável sua detecção.

Não defendo sobremaneira que se cerrem as fronteiras transnacionais como alguns ousam propalar em seus fundamentalismos. Vozes nesse sentido exsurgiram na Comunidade Européia chocada com os atentados recentes que se perpetuam. Proibir é diferente de controlar. É imprescindível controlar adequadamente, com interações efetivas de segurança e inteligência, os fluxos fronteiriços.

Enquanto o mundo reconhece essa necessidade e os riscos, bem pautados pela matéria do The Japan Times em nosso caso particular, o governo brasileiro sanciona lei para dispensar controles prévios constituídos historicamente que, decerto, poderiam auxiliar a execução de políticas de segurança e inteligência. Ressalte-se que não foram ainda devidamente especificadas as nações privilegiadas pela benesse. Em nossa "exótica" política externa, presumo que não serão sequer nações que dispensam tratamento recíproco aos brasileiros.

Situações especiais exigem medidas especiais. E potencialmente, as análises de risco devem ser submetidas a uma revisão extraordinária em tais circunstâncias.

Fontes:

http://soldadodosilencio.blogspot.com/2015/11/brasil-governo-do-conto-de-fadas-versus.html

http://www.reuters.com/article/2015/11/20/us-france-shooting-usa-idUSKCN0T820420151120

http://noticias.terra.com.br/mundo/europa/suspeita-de-participar-de-atentados-em-paris-esteve-no-brasil-diz-equador,4235d36db2352ef2c22fdf7bf5b2fdfa9s5frw2d.html

http://www.eldeber.com.bo/santacruz/detienen-australianos-dinamita-viru-viru.html


http://g1.globo.com/mundo/noticia/2015/11/australianos-sao-impedidos-na-bolivia-de-viajar-com-dinamite-para-o-brasil.html

http://www.japantimes.co.jp/news/2015/11/20/world/paris-attacks-heighten-security-fears-2016-rio-olympics/#.VlIA024vnMx 

http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/olimpiadas/rio2016/noticia/2015/11/dilma-sanciona-lei-que-permite-isentar-visto-de-estrangeiros-nas-olimpiadas.html

domingo, 22 de novembro de 2015

Ex-espião Jonathan Pollard é libertado após 30 anos

A liberdade do ex-espião Jonathan Pollard é destaque de matérias do G1 e do Diário de Notícias de Portugal. Após o cumprimento de 30 anos de prisão de uma sentença perpétua, o que lhe tornou elegível a liberdade, o ex-espião israelense foi libertado pelo governo norte-americano.

 
Jonathan Pollard é considerado um herói em Israel

Pollard cumpria sentença por espionagem contra os Estados Unidos da América por ter repassado segredos ao estado de Israel - tal sentença sempre foi um dos pontos de tensão política entre os governos, especialmente em função da consistente aliança estratégica existente entre as nações.

Um relevante artigo da Wikipedia relata a biografia de Pollard e suas atividades de Inteligência, especificando como supostamente ocorreu seu recrutamento pelo Mossad, que a princípio desconfiava de tratar-se de um agente duplo.

O Primeiro-Ministro israelense Benjamin Netanyahu congratulou Pollard pela sua libertação em declarações oficiais:

"...O povo de Israel saúda a libertação de Jonathan Pollard [...] Após três longas e duras décadas, Jonathan está finalmente de volta com sua família..." 

Aparentemente não há interações entre a libertação de Pollard e os últimos eventos que interferem nas relações internacionais com a tendência de reaproximação e ações conjuntas entre as grandes potências mundiais.

Fontes:

https://en.wikipedia.org/wiki/Jonathan_Pollard

http://g1.globo.com/mundo/noticia/2015/11/espiao-israelense-jonathan-pollard-e-libertado-de-prisao-nos-eua-diz-policia.html

http://www.dn.pt/mundo/interior/estados-unidos-libertam-jonathan-pollard-heroi-em-israel-4894189.html

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Atentado terrorista assola Paris

Terrível atentado terrorista nesta sexta-feira (13/11/2015) assolou a capital da França, vitimando pelo menos 308 pessoas, com 128 fatalidades- suposições preliminares informam que a autoria da barbárie é atribuída a grupos vinculados ao ISIS.


Pelo menos oito terroristas com motivações fundamentalistas islâmicas detonaram bombas e dispararam armas automáticas contra alvos civis em Paris em pelo menos sete locais centrais da cidade luz, incluindo o Stade de France, onde ocorria amistoso entre a França e a Alemanha com a presença do presidente francês François Hollande, que em pronunciamento a nação decretou estado de emergência e fechou as fronteiras francesas.

É possível interpretar que as ações foram orquestradas e apresentaram alto grau de organização em relação a proporção do número de atores hostis, o que maximizou o número de vítimas e dificultou a atividade reativa das forças francesas. Todas as informações são preliminares, baseadas em fontes abertas e na cobertura inicial da CNN e do Corriere della Sera, e demandam confirmações posteriores.

Atenção à nação. Nos eventos que pretendemos executar durante a Olimpíada de 2016 no Rio de Janeiro, esse é o tipo de ação que se poderia prever, diante do apelo midiático. Münich é um exemplo histórico. Permaneceremos incautos e crentes na teoria do Deus brasileiro? Já não basta ser o homízio típico de terroristas consagrados mundialmente?

Fontes:



terça-feira, 10 de novembro de 2015

Os atribulados mares orientais: ilhas artificiais, rusgas históricas e exercícios temerários

Uma das principais características de um Estado que pleiteia ser uma potência mundial é a projeção de sua força militar, em todas as suas potenciais dimensões de combate, em todos os possíveis cenários de embate. Há um constante exercício de demonstração de capacidades militares, por vezes correlacionado a posteriores esforços diplomáticos para acalmar a erupção das tensões acumuladas. 

Para fazer uma longa história resumida: há crescente tensão entre os Estados Unidos da América e China, pela hegemonia militar daquela que pode ser a rota comercial mais rentável da história da humanidade: os mares orientais do sul da China. 

O portal Janes, consagrado por excelentes análises, destaca há tempos os avanços chineses na construção de infraestruturas artificiais em arquipélagos nos mares do sul da China que estão sob litígio internacional.




Na última semana a incursão do destroyer americano USS Lassen nas proximidades de uma das ilhas artificiais despertou a ira dos chineses, expressa nas palavras do embaixador chinês junto aos Estados Unidos da América, Cui Tiankai, conforme matéria da CNN:

"...It is a very absurd and even hypocritical position to ask others not to militarize the region while one's self is sending military vessels there so frequently..."

A resposta não tardou. O secretário de defesa norte americano Ash Carter declarou sobre o tema em um painel do Senado Americano:

"...We will fly, sail and operate wherever international law permits and whenever our operational needs require..."

O portal Janes ainda indicou um fato novo na cadeia de eventos que elevam a tensão militar no local - o envio de uma força anfíbia especializada da marinha americana:

"...The US Navy's (USN's) Essex Amphibious Ready Group (ARG) has arrived in the service's 7th Fleet area of responsibility, the service confirmed to IHS Jane's on 3 November.

The group, which includes the Wasp-class amphibious assault ship USS Essex (LHD 2), the San Antonio-class amphibious transport dock USS Anchorage (LPD 23) and the Whidbey Island-class amphibious dock landing ship USS Rushmore (LSD 47), crossed the international dateline on 1 November, said Lieutenant Dave Levy, a public affairs officer with the USN's Expeditionary Strike Group Seven (ESG 7).

Embarked with the ARG is the 15th Marine Expeditionary Unit (MEU), which includes the Marine Medium Tiltrotor Squadron (VMM) 161 (Reinforced).

The arrival of Essex ARG in the 7th Fleet AOR follows a 27 October freedom of navigation (FON) operation by USN destroyer USS Lassen (DDG 82), which sailed within 12 n miles of what China views to be its territorial waters in the Spratly Islands. Beijing responded by saying that the US operation "threatens China's sovereignty and security interests, jeopardises the safety of personnel and facilities [on the] reefs, and damages regional peace and stability"..."

A Reuters afirmou que no episódio da incursão do USS Lassen as forças americanas foram espelhadas por navios e aeronaves militares chinesas, sendo inclusive alertadas em conformidade com as leis internacionais. A marinha americana afirma por sua vez ter respeitado as leis internacionais na incursão. 

A projeção das forças militares americanas no oriente é comumente relacionada ao apoio americano a Coréia do Sul e ao Japão, onde são constantes os exercícios militares conjuntos que simulam eventuais conflitos com a Coréia do Norte, que por sua vez goza do apoio do regime comunista chinês. Barack Obama deverá visitar a Ásia em breve.

Várias nações clamam os territórios de ilhas que se espalham pelo mar do sul da China, por sua importância estratégica, em especial como entrepostos militares. Dentre tais nações destacam-se o Vietnam e as Filipinas. A histórica controvérsia relativa a Taiwan também emerge quando se trata da soberania chinesa ultramarina.

Decerto trata-se de um dos cenários que merecem atenção internacional, pela possibilidade de escalonamento de uma crise entre duas superpotências, embora seja improvável que o evento cause um conflito armado.

Fontes:

http://edition.cnn.com/2015/10/27/asia/us-china-south-china-sea/

http://www.reuters.com/article/2015/10/28/us-southchinasea-usa-idUSKCN0SK2AC20151028#avixrq1ystGbyqt4.97

http://www.nytimes.com/interactive/2015/07/30/world/asia/what-china-has-been-building-in-the-south-china-sea.html?_r=0

http://www.jb.com.br/internacional/noticias/2015/11/04/presidentes-de-taiwan-e-china-se-reunirao-pela-primeira-vez-desde-1949/

http://www.janes.com/article/55709/essex-amphibious-group-arrives-in-pacific-as-usn-reiterates-rights-to-south-china-sea-access?utm_campaign=%5bPMP%5d_PC5308_J360%204.11.15_KV_Deployment&utm_medium=email&utm_source=Eloqua

domingo, 1 de novembro de 2015

Atualizações da "Nova Guerra Fria": propaganda enganosa, receios submarinos e a Síria pelos infantes

É notório que as tensões entre Estados Unidos da América e Rússia continuam a se intensificar na medida que o conflito na Síria e os jogos de guerra centrados no leste europeu baseados na guerra civil Ucraniana evoluem.


Uma "Nova Guerra Fria"? 

Particularmente, sou partidário da corrente de pensamento que considera que a Guerra Fria nunca tenha efetivamente arrefecido ao ponto dos focos de calor terem se extinto. Mas a taxonomia da história se reflete na polemologia e costuma fragmentar a cadeia de eventos em marcos, e decerto o fim da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas é um ponto de curva considerável no diagrama histórico.

A politizada agência Sputnik alardeou as palavras do porta voz da Casa Branca Josh Earnest, que teria declarado que não há uma "Nova Guerra Fria" utilizando um argumento no mínimo tosco:

"...O porta-voz oficial da Casa Branca, Josh Earnest, declarou que o assunto de uma suposta Guerra Fria entre Rússia e EUA não está em pauta no momento porque a Rússia não representa mais uma superpotência, como o era na época da União Soviética.

"Não há dúvidas de que nós temos sérias divergências, principalmente sobre Ucrânia e Síria. Mas a Guerra Fria foi caracterizada pela confrontação entre duas superpotências. Agora, a situação é outra. A Rússia não é mais uma superpotência" – disse Earnest..."

Eu entendo que o papel do porta voz não costuma habilitá-lo ao livre exercício de um raciocínio histórico - mas enveredar para a propaganda enganosa não será producente. É inegável que a Rússia constitui uma superpotência mundial.

Os crescentes sinais de dissonância não se limitam a expansão das esferas de influência ou a discursos tendenciosos. Recente matéria do The New York Times revela um dos temores da inteligência americana: a possibilidade de um ataque submarino russo aos sistemas de cabos de comunicação que atravessam os oceanos.

Supostamente tais receios submarinos são fruto de operações de reconhecimento de belonaves nucleares da Rússia nas proximidades de sistemas críticos dos cabos de comunicação oceânicos. O potencial de um ataque que segmentasse os cabos é extremamente relevante, e decerto figuram em rol de alvos de alto valor a comunicação internacional no ocidente. 

Adquirir alvos que constituem infraestruturas críticas em eventual conflito é papel da inteligência militar de uma superpotência. Josh Earnest potencialmente dispõe de meios para alcançar esse entendimento - mas como asseveramos, não é pago para falar o que pensa. 

No teatro sírio, a recente implementação de forças especiais norte americanas em terra para combater o ISIS não é meramente protocolar, e também merece entrar no rol dos sintomas estudados. E mais uma vez, não é mera propaganda. Conhecer as atitudes de um potencial inimigo, "espelhando" suas operações em um cenário comum é uma relevante estratégia para evoluir doutrinas de combate no intuito de gerar o diferencial que possa alavancar vitórias.

Os argumentos ingênuos só servem as propagandas de ambos os lados do conflito. Quando se trata de estratégia militar que fundamenta a defesa nacional contra todos os potenciais cenários ameaçadores, nenhuma superpotência mundial fingirá boiar na superfície ignorando a abissal profundidade do mar belicista.

Fontes:

http://br.sputniknews.com/mundo/20151030/2605389/washington-nega-volta-guerra-fria-explica-porque.html

http://www.nytimes.com/2015/10/26/world/europe/russian-presence-near-undersea-cables-concerns-us.html?mwrsm=Email&_r=4

http://www.independent.co.uk/life-style/gadgets-and-tech/news/us-intelligence-fears-russia-could-crash-internet-by-cutting-subsea-cables-a6708651.html

http://noticias.r7.com/brasil/forcas-especiais-na-siria-nao-implicam-entrada-dos-eua-na-guerra-civil-diz-kerry-31102015


A maior catástrofe aérea russa

A queda do Airbus A321  russo da companhia Kogalymavia na península do Sinai no Egito é a maior tragédia aérea da história da Rússia. A fatalidade assolou 217 passageiros e 7 tripulantes, conforme informações da agência Sputnik.


Como em todo acidente aeronáutico, amplas são as possibilidades do que pode ter ocorrido, e a devida investigação dos fatos culminará em uma explicação adequada para a tragédia.

Relatos não confirmados indicam que a amplitude do sítio dos destroços indica que a aeronave se desintegrou no ar, o que de forma meramente precária e não conclusiva poderia ser compatível com um ataque terrorista. Matéria replicada no portal Terra afirma citando fontes oficiais russas que fotos de satélite apresentam um sítio de destroços com mais de 16 quilômetros quadrados de extensão.

A priori a possibilidade de terrorismo não pode ser descartada - assim como todas as outras possibilidades. A teoria terrorista emerge imediatamente de um fato: a motivação para uma eventual ação do gênero por parte de grupos bárbaros como o ISIS é real e significativamente aumentada após a intervenção russa na Síria. As ameaças nesse sentido tem sido constantes, e nas últimas semanas foram indicadas em postagens neste blog.

O terrorismo internacional sempre apostou em atos ilícitos contra sistemas aeronáuticos, em virtude do impacto mundial de tais alvos e infraestruturas críticas. Inúmeros são os exemplos trágicos de tal estratégia na história moderna. De fato, uma facção do ISIS atuante no Egito reivindicou ter causado a queda do avião - o que pode ser puro oportunismo propagandístico diante do advento da tragédia.

Análises prematuras tendem a fracassar em suas conclusões. A guarda dos serviços de contrainteligência russos já está alta há tempos, se é que em algum momento da história esteve baixa. Condolências as famílias das vítimas de mais uma terrível tragédia aeronáutica.

Fontes:

http://soldadodosilencio.blogspot.com.br/2015/10/terroristas-lancam-obuses-contra.html

http://soldadodosilencio.blogspot.com/2015/10/fsb-impede-dois-atentados-terroristas.html

http://br.sputniknews.com/mundo/20151101/2615479/moscou-cairo-investigam-catastrofe-aerea-russa.html

http://noticias.terra.com.br/ciencia/espaco/fotos-tiradas-do-espaco-facilitam-buscas-no-local-de-queda-de-aviao-no-egito,78c67bad814b82b0bb65d700e5061a9bbz1fmqbc.html


quarta-feira, 28 de outubro de 2015

John Brennan revoltado, CIA ridicularizada: graves repercussões de uma falha pessoal.

Ser diretor de uma grande Agência de Inteligência não é tarefa fácil. Se é verdade que barco singra o mar à imagem do exemplo de trabalho de seu capitão, a CIA deverá rever muitos aspectos de sua atividade em função do escândalo que envolve a falha pessoal de John Brennan.


Desde o dia 21/10/2015 quando tratamos em postagem a brecha que vitimou o diretor da CIA, muitas repercussões ganharam corpo em coleta OSINT. A CNN apresenta a revolta de John Brennan, em recentes declarações perante conferência na George Washington University:

"...I was certainly outraged by it [...] I certainly was concerned about what people might try to do with that information, [...] I was also dismayed at how some of the media handled it, and the inferences that were in there. [...] Although we are government officials, we also have family and friends, bills to pay, things to do in our daily lives, and the way you communicate these days is through the Internet, [...] The implication of some of the reporting was that I was doing something inappropriate or wrong or a violation of my security responsibilities - which was certainly not the case. [...] What it does is to underscore just how vulnerable people are to those who want to cause harm, [...] We really have to evolve to deal with these new threats and challenges..."

Resta claro o esforço de Brennan em desvincular sua gestão de uma atitude negligente na mentalidade de contrainteligência ou incapacidade pessoal, vinculando o caso a uma oportunidade de estudo das atuais ameaças cibernéticas.

Quanto a primeira parte do argumento, duvido que seus pares desvinculem o escândalo pessoal de sua gestão profissional, embora por mera aparência possivelmente o façam. Pela segunda parte, concordo: é um caso a se estudar quando um suposto adolescente em manobra de engenharia social ganha acesso a uma "esquecida" conta de e-mail pessoal de um diretor da CIA, com informações sensíveis as suas atividades profissionais. 

Matéria da Associated Press destaca a relativa sensibilidade dos conteúdos acessados pelo hacker, conforme expresso no vazamento de documentos propalado pelo WikiLeaks, que incluem temas relativos ao Irã e aos métodos de tortura aplicados pela CIA: 

"...The WikiLeaks organization posted material Wednesday from what appears to be CIA Director John Brennan’s personal email account, including a draft security clearance application containing personal information. [...] The documents all date from before 2009, when Brennan joined the White House staff; before that, he was working in the private sector. Aside from the partially completed clearance application, none of the documents appears to be sensitive.

The documents include a partially written position paper on the future of intelligence, a memo on Iran, a paper from a Republican lawmaker on CIA interrogations and a summary of a contract dispute between the CIA and Brennan’s private company, the Analysis Corporation, which had filed a formal protest after losing a contract dealing with terrorist watch lists..."

A matéria da AP também relata a postura oficial da CIA - condenação a conduta do hacker e apoio incondicional a vítima:

"...A CIA statement called the postings a “crime.” [...] "The Brennan family is the victim,” the agency said in an unattributed statement, in keeping with agency policy. “This attack is something that could happen to anyone and should be condemned, not promoted. There is no indication that any the documents released thus far are classified. In fact, they appear to be documents that a private citizen with national security interests and expertise would be expected to possess..."

Aparentemente o suposto hacker autointitulado "Cracka" não tem expectativas de permanecer anônimo, teme por sua vida. É o tema de nota do Daily Mail. Se eventualmente for mesmo um adolescente, deve estar no porão de pais que sequer conhecem dos fatos. Sinceramente, é difícil acreditar que seja um garoto de 13 anos o autor da façanha. Na guerra cibernética a verdade também é a primeira vítima.

Embora os esforços para diminuir a dimensão do escândalo sejam louváveis, é patente que há vários assuntos sensíveis que foram desvelados. A NDTV da Índia destaca a visão de Brennan em documento destinado a Obama sobre a interação entre terroristas afegãos, o governo Paquistanês e seu conflito com a Índia:

"...Pakistan uses terrorists as proxies to counter India's growing influence in Afghanistan, according to a set of documents released by WikiLeaks from the hacked personal email account of Central Intelligence Agency (CIA) director, John Brennan. The documents, released by the whistle-blower website and deemed classified by the CIA, contained reports on Afghanistan and Pakistan, and also ideas for US policy towards Iran.

Three days after Barack Obama was elected US President in November 2008, Mr Brennan wrote to him in a position-cum- strategy paper that Pakistan uses the Taliban to counter India in Afghanistan. "Pakistan's desire to counter India's growing influence in Afghanistan and concerns about US long-term commitments to Afghanistan increase Pakistan's interest in hedging its bets by ensuring that it will be able to have a working relationship with the Taliban to balance Indian and Iranian interests if the US withdraws," Mr Brennan wrote on November 7 in 2008.

At that time, Mr Brennan was a top foreign policy and counter-terrorism adviser to Mr Obama, then a president-elect. Mr Brennan was in the running to be CIA Director, but the post, however, went to Leon Panetta. In January 2013, President Obama nominated Mr Brennan as CIA Director. His views on Pakistan were disclosed in a 13-page executive summary of key findings and recommendations on Afghanistan and Pakistan.

Mr Brennan, in the summary, said efforts in the Federally Administered Tribal Areas (FATA) have been challenged by Pakistan's ambivalence and perhaps outright support for, the Taliban. "While the US Intelligence Community differs on the extent of the relationships, at least some elements of Pakistan's military and intelligence services appear to be ambivalent about the anti-Taliban and anti-militant mission in the FATA, in part due to their history of close ties to the Taliban in Afghanistan's conflict with the Soviet Union and Pakistan's use of militant proxies in its conflict with India," he wrote.

Coalition forces have won every major battle with Afghan insurgents, but these tactical successes have not resulted in a strategic victory, largely because insurgents are free to regroup in sanctuaries across the Afghanistan-Pakistan border, he wrote. On Wednesday, WikiLeaks began publishing documents from "Brennan's non-government email accounts". They appear to date back to 2007-09, when Mr Brennan worked in the private sector..."

Aposto que Putin deve ter rolado no chão de tanto rir. A agência Sputnik apresenta uma série de matérias explorando os documentos vazados do e-mail de Brennan. Fato é que a imagem da CIA restará mais uma vez ridicularizada em função da falha pessoal de um de seus principais atores.

A lição do crescente escândalo envolvendo Brennan e o "Cracka" é simples e fatal: ninguém jamais estará imune as preparações básicas de contrainteligência. Estivessem tais documentos criptografados adequadamente em um canal seguro para sua difusão, o eventual acesso não autorizado ao e-mail pessoal por um golpe de engenharia social seria potencialmente irrelevante.

Fontes:

http://soldadodosilencio.blogspot.com/2015/10/hacker-adolescente-teria-invadido-email.html

http://edition.cnn.com/2015/10/27/politics/john-brennan-email-hack-outrage/

https://www.washingtonpost.com/politics/wikileaks-publishes-cia-director-john-brennan-emails/2015/10/21/5e37c758-782c-11e5-a5e2-40d6b2ad18dd_story.html

http://www.ndtv.com/india-news/pak-used-taliban-to-counter-india-in-afghanistan-cia-chiefs-hacked-emails-1236355

http://sputniknews.com/us/20151022/1028905336/CIA-Operated-Within-US.html

http://www.dailymail.co.uk/news/article-3286700/Hacker-Cracka-got-CIA-Director-John-Brennan-s-AOL-account-believes-caught.html

domingo, 18 de outubro de 2015

Bolívia reporta incursão de aeronave-espiã

De acordo com o Vice-Ministro da Defesa Social e Substâncias Controladas da Bolívia, Felipe Cáceres, seu país reportou a presença de aeronave espiã em seu espaço aéreo. 


Não há mais detalhes sobre o fato, a aeronave em questão ou o teatro das operações. A Bolívia planeja a aquisição de 16 radares Thales da indústria francesa para o controle de seu espaço aéreo. Eis o destaque da agência EFE:

“Estamos falando de segurança do estado boliviano, temos muita informação. Devemos alertar que há aeronaves não identificadas no espaço aéreo boliviano e é questão de segurança de Estado”

Sobre a compra dos radares, o Ministro da Defesa Reymi Ferreira declarou em Abril de 2015:

"...Nuestro espacio aéreo estará controlado, y nos permitirá garantizar la aeronavegación comercial, además de combatir al narcotráfico" [...] "En el departamento de Beni y en la región amazónica existen muchas pistas clandestinas que requieren control mediante radares..."

Além da confissão implícita de Ferreira, é notório que o controle do espaço aéreo boliviano é débil - imperam aeronaves clonadas sob serviço de carga ao narcotráfico internacional. A título de exemplo,vários são os casos noticiados na imprensa de aviões roubados no Brasil trasladados ao país andino para servir a esquadrilha ilegal dos cocaleros. 

Diante de tal fragilidade, é surpreendente o "serviço de inteligência" boliviano se deparar com tamanha certeza sobre a incursão espiã a ponto de produzir forte alarido - se a detecção não for mero fruto do acaso, decerto será propaganda para robustecer as justificativas do contrato pretendido com a indústria francesa. Com tendências amigáveis ao populismo lulo-petista e suas lições de "ética financeira contratual", quiçá o Cocalero demandará seus eventuais percentuais no contrato de 204 milhões de Euros... a história ocasionalmente revelará a verdade.

Fontes:

https://www.ultimoinstante.com.br/ultimas-noticias/politica/bolivia-denuncia-presenca-de-avioes-espiao-em-seu-espaco-aereo/133959/

http://www.mdzol.com/nota/602690-bolivia-compra-radares-a-francia-por-204-millones-de-dolares/

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Essequibo: cortinas de fumaça e tentativas diplomáticas

Enquanto Caracas continua a lançar cortinas de fumaça sobre suas reais estratégias sobre a anexação do território de Essequibo, a ONU implementa esforços diplomáticos para uma solução que não implique em conflito bélico entre a Venezuela e a Guiana.


As últimas semanas foram marcadas por esforços diplomáticos, incluindo a reaproximação entre embaixadas e o envio de missão da ONU a ambos os países, enquanto Diosdado Cabello arrotava  diretamente de Caracas sobre a intenção "maluca" da Guiana de "querer a guerra" por Essequibo, conforme recorrente reporte de fontes abertas:

'...according to media reports out of Caracas, Cabello said the government of President David Granger is “out of its mind,” because, in his view, Guyana “wants a war” with Venezuela over the Essequibo. “We are not going to war; we will not do that. We want peace,” Cabello stressed.
“Everything there is west the Essequibo River is Venezuelan (territory). There is no doubt about it,” he was quoted in El Universal as saying..."

Obviamente as bravatas de Cabello não restaram inopinadas pelos Estados Unidos da América em relação a controvérsia. O recém acreditado embaixador americano na Guiana, Perry L. Holloway discordou diplomaticamente do leão de chácara venezuelano:

On Monday, newly accredited U.S Ambassador to Guyana, Perry Holloway had said both Guyana and Venezuela should push for a “peaceful resolution, continued dialogue and respect for international law” in relation to the border controversy.Asked whether US intervention was likely if the aggression from Venezuela continues given that a US company –ExxonMobil – is operating in the area of controversy, Holloway said that the US has one stance on the issue irrespective of the nationality of company.

“Whether it was a US company or a Chinese company I don’t think it would have changed our stance,” he stated. He said that the world is impressed with the manner in which President David Granger has handled the Guyana/Venezuela border controversy.
...'

A controvérsia territorial será analisada pela equipe de Susana Malcorra, Chefe de Gabinete do Secretário Geral da ONU, Ban Ki-Moon. A executiva teria afirmado que acredita que progressos substanciais foram realizados com a reabertura das relações diplomáticas entre as nações em lide.

Maduro, em um de seus rompantes dialéticos aviários, disse que a solução para a disputa territorial se avizinha e que a Venezuela não abrirá mão de sua soberania sobre bases diplomáticas e pacifistas. Acredite se quiser...

Fontes:

http://www.inewsguyana.com/venezuelan-congress-speaker-says-guyana-govt-is-out-of-its-mind-it-wants-war/

http://lainfo.es/pt/2015/10/06/venezuela-rejeita-interferencia-dos-eua-em-disputa-territorial-com-a-guiana-essequibo/

http://webjornalunesp.com/2015/10/07/venezuela-e-guiana-concordam-com-regresso-de-embaixadores-apos-conflito

http://www.telesurtv.net/english/news/Maduro-Solution-to-Essequibo-Dispute-to-Be-Announced-November-20151014-0037.html

http://www.eluniversal.com/nacional-y-politica/151015/un-praises-progress-towards-settlement-of-essequibo-border-dispute

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Terroristas lançam obuses contra embaixada russa em Damasco

Algumas previsões são realizáveis por qualquer criança bem informada: terroristas começam designar e atacar alvos russos em represália a intervenção na Síria, desfavorável as intenções de criação do famigerado "califado" do ISIS.


A explosão de obuses contra a embaixada da Rússia em Damasco no dia 13/10/2015 é talvez o primeiro movimento  terrorista amplamente divulgado contra alvos não militares russos. Altamente provável que não será um fato isolado. Entretanto, o lamentável atentado terrorista oferece uma oportunidade para comparar as repercussões do fato na comunidade internacional.

O norte-americano The New York Times publicou matéria noticiando os fatos, da qual destaco a análise finalística:

"...The attack on the embassy comes as Russia has intensified its airstrikes against Syrian insurgents. Both Russia and the United States say they are battling the Islamic State extremist group, also known as ISIS, ISIL or Daesh, but the two countries have taken opposite sides in the fighting between Mr. Assad and the other insurgent groups fighting him.

Russia’s airstrikes have mainly hit non-Islamic State groups, including the Nusra Front, Al Qaeda’s affiliate in Syria, as well as American-backed groups. Russian officials dismiss distinctions between the insurgent groups and say they are all terrorists and legitimate targets.

There were no immediate reports that any buildings in the Russian Embassy compound had been hit by the mortar shells Tuesday morning. Russian state news media said that the first shell struck 200 yards away. The Syrian Observatory for Human Rights, a monitoring group based in Britain with a network of contacts across Syria, said that ambulances were seen in the area afterward."

By afternoon, Syria’s state news media had not reported the attack, carrying only an item about Syrians’ demonstrating to thank Russia for its “seriousness in fighting terrorism” and to reject “any foreign interference in their internal affairs...”

Por sua vez, a agência Sputnik, na versão em português, também apresenta os fatos atinentes ao atentado, e resume sua análise quase como uma resposta:

"...Desde 30 de setembro último, a pedido do presidente sírio Bashar Assad, a Rússia iniciou ataques localizados contra as posições do Estado Islâmico na Síria, usando aviões Su-25, bombardeiros Su-24M, Su-34, protegidos por caças Su-30SM.Segundo os dados mais recentes, as Forças Aeroespaciais russas realizaram, desde o início da operação, cerca de 140 missões contra as posições dos terroristas, nomeadamente postos de comando, campos de treinamento e arsenais.

Além disso, os navios da Frota do Mar Cáspio lançaram 26 mísseis de cruzeiro contra os territórios controlados pelos jihadistas. A precisão de ataque é de cerca de 5 metros.Os alvos dos ataques são estabelecidos com base nos dados de reconhecimento russo, sírio, iraquiano e iraniano.

O embaixador sírio na Rússia, Riad Haddad, confirmou que as missões aéreas são realizadas contra organizações terroristas armadas, e não contra grupos da oposição política ou civis. Além disso, segundo ele, em resultado da operação da Força Aérea russa, já foi destruída cerca de 40% da infraestrutura do Estado Islâmico..."

Atenção: não coloquei o trecho específico que trata da notícia, posto que ali havia coincidência praticamente total. Já a dissonância das análises e opiniões sobre a atuação russa no conflito é mais do que óbvia.

O destaque final sobre o tema fica para o Sputnik, no dia seguinte aos eventos: Estados Unidos se recusam a condenar ataque contra embaixada russa na Síria. Sergei Lavrov, ministro russo, teria lamentado o fato de seus antagonistas americanos não condenarem  o ataque terrorista no Conselho de Segurança da ONU, se negando a assinar a declaração neste sentido proposta pelos russos. 

Prezados ianques: tudo indica que foi um atentado terrorista sim!

Denota-se que a propaganda política da "Nova Guerra Fria", ora aplicada na era da internet globalizada, é muito mais transparente: a tecnologia popularizada parece ter fundido boa parte da cortina de ferro.

Fontes:

http://www.nytimes.com/2015/10/14/world/middleeast/russia-syria-embassy.html?_r=0

http://www.ebc.com.br/noticias/internacional/2015/10/siria-projeteis-explodem-na-embaixada-da-russia-em-damasco

http://br.sputniknews.com/mundo/20151013/2412753/Siria-ataque-embaixada-Russia-Damasco.html

http://br.sputniknews.com/mundo/20151014/2430447/embaixada-atentado-condenacao-EUA-Russia.html

domingo, 11 de outubro de 2015

Fontes iranianas acusam o Mossad de provocar tumulto mortal em Mecca

O Mossad está envolvido em operações de inteligência improváveis e realmente fantásticas... mas a desinformação iraniana provavelmente exagerou dessa vez: supostamente o serviço secreto israelense foi acusado pelo Irã de provocar o tumulto mortal nos arredores de Mecca para abduzir oficiais iranianos.

As fontes iranianas remontam a uma agência de notícias denominada "al-Nahrain-net", e seriam supostamente baseadas em relatórios preliminares de "alguma inteligência européia". Tal reporte preliminar indicaria participação de agentes israelenses e sauditas no tumulto que ocasionou quase 800 mortes e mais de 1000 feridos em um ritual de apedrejamento de pilastras que representariam o demônio. Obviamente, Arábia Saudita e Israel são os maiores adversários regionais do Irã.


A matéria da Salem-News informa seis potenciais vítimas: 

"...According to this report, the former Iranian ambassador to Lebanon, Ghazanfar Roknabadi, is believed to have kidnapped in the deadly stampede. Mr. Roknabadi is considered an eminent member of the Supreme Leader's office staff and a figure who is well-informed regarding the secrets of arming Hezbollah by Tehran. Ali Asghar Fouladgar, the head of IRGC's institute for strategic studies, is also identified as missing. Hussein Danesh, Fo'ad Mashghali, Ammar Miransari and Seyyed Hasan Hasani - all members of IRGC or Iran's Supreme Leader's office for the pilgrimage, are declared missing..."


A agência iraniana Tanseem replica a mesma notícia. O website Breaking News Israel apresenta a versão desta última fonte iraniana:

"...The reason Tanseem pins the notion that the stampede was an Israeli-Saudi collaboration on information in the Western intelligence report indicating that “it is impossible that Mossad agents could carry out such an operation without coordination with Saudi intelligence, and perhaps with the assistance from one or more Western intelligence services.”

Tanseem says its sources confirmed that former Iranian Ambassador to Lebanon Ghazanfar Abadi is among the missing in Mina, and as he is one of the most important figures in the office of the commander of the revolution, and possibly the most prominent figure familiar with the secrets of Iranian armament of Hezbollah in Lebanon, it follows that he could have been targeted in the “Mossad stampede..."

Uma avaliação particular: desinformação pura, e provavelmente de jornalismo sensacionalista tendente a teorias da conspiração, desvinculada de qualquer inteligência efetiva.
 
Rápida pesquisa demonstra que a própria agência oficial de notícias iranianas (IRNA), replicada em agência de notícias Albawaba, após semanas de desaparecimento, confirmou a morte de Ghazanfar Roknabadi no tumulto de Hajj. 
 
Imputar as responsabilidades de um acidente multitudinário historicamente recorrente nas festividades islâmicas a inimigos clássicos é uma forma de justificar os fatos, deixá-los mais aceitáveis - ou mais comerciais, no caso de um jornal sensacionalista.

Fontes:

http://www.breakingisraelnews.com/49934/iranian-news-agency-blames-mossad-saudis-for-staging-mina-stampede-to-abduct-senior-iranians-middle-east/#UqtzSIilu2sLJyjV.97

http://en.abna24.com/service/middle-east-west-asia/archive/2015/10/01/713133/story.html

http://www.salem-news.com/articles/october042015/mecca-irgc-abductions.php

http://www.timesofisrael.com/senior-iran-diplomat-missing-after-hajj-tragedy/

http://www.albawaba.com/news/former-iranian-envoy-lebanon-killed-hajj-stampede-749806

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

IMINT da Airbus aponta: Coalizão Árabe prepara mísseis Patriot no Iêmen

Ampliam-se os conflitos e polêmicas nos variados teatros de operações do Oriente Médio. 

A Coalizão Árabe que enfrenta rebeldes Houthis (de viés xiita) no Iêmen está preparando mísseis Patriot para a "defesa" de uma base avançada próxima a Marib, conforme IMINT da Airbus Defense and Space em análise veiculada no portal Janes.



Por sua vez, a Al-Jazeera informa que mais um casamento foi bombardeado causando várias mortes, o que chamou a atenção de observadores de direitos humanos da ONU. 

O porta voz da Coalizão Árabe nega que qualquer bombardeio tenha sido efetuado na área citada, adicionando ainda que as forças militares não iluminam alvos civis.

Fontes:

http://www.janes.com/article/55137/arab-coalition-deploys-patriot-to-yemen

http://www.aljazeera.com/news/2015/10/demands-probe-deadly-yemen-wedding-strike-151009181109645.html

http://www.aljazeera.com/news/2015/10/deadly-air-strike-reported-yemen-wedding-party-151008073704528.html

De Sousa (ex-CIA) detida em Portugal

Um dos mantras comuns na Atividade de Inteligência que são replicados nos livros e filmes ficcionais sobre o tema constitui verdade fora das páginas e telas: se durante ação clandestina o operativo restar exposto, terá pouca ou nenhuma ajuda, e normalmente será o fim de sua carreira.


E a realidade se aproxima da ficção nas exposições. É o caso de Sabrina De Sousa, citado pela Vice News, The Star e Diário de NotíciasThe Wall Street Journal destaca o polêmico caso que envolveu a agente e outros 25 colaboradores da CIA:

"...The case is part of a landmark ruling by an Italian court on the U.S. practice of abducting suspected terrorists and flying them to other countries for interrogation.

Ms. de Sousa is one of 26 Americans, mostly CIA agents, convicted in absentia in 2009 of taking part in the 2003 kidnapping Osama Mustafa Hassan Nasr on a street in Milan. The CIA and Italian police considered the cleric to be a recruiter for al Qaeda. He was sent to U.S. military bases in Italy and Germany before being moved to Egypt, where he was released without charges 14 months later. He said he had been tortured.

The Americans, none of whom has been in custody in Italy, were sentenced to five years initially. An appeals court lengthened the sentences to seven years. The sentences were upheld by Italy’s highest court in 2012..."
 

Nascida na Índia, Sabrina de Sousa é cidadã norte-americana e portuguesa. Ex-agente da CIA sob disfarce diplomático, foi condenada à revelia na Itália por participar do rapto do radical islâmico Abu Omar em 2003 na autoproclamada guerra contra o terrorismo. 

Enfim, o caso é um marco sobre as prisões clandestinas da CIA na Comunidade Européia durante a guerra ao terror.
 
De Sousa foi detida no Aeroporto de Lisboa, posto que contra ela pendia mandado judicial comunitário em função de sua condenação - tem 10 dias para evitar sua extradição de Portugal rumo a uma prisão italiana. 

Sabrina conhecia sua condição judicial precária. Teve motivos humanitários para se expor a eventual detenção: pretendia visitar a mãe doente na Índia. As autoridades portuguesas não mantiveram  a ex-agente em prisão preventiva - deverá se apresentar esporadicamente as autoridades portuguesas. 

Sabrina De Sousa alega inocência. Em sua conta oficial do Twitter, uma das informações é muito relevante para sua defesa: a CIA atuou em conjunto com a Inteligência Italiana em Milão. Nenhum dos operativos italianos foi condenado. 

Até onde vai a responsabilidade do Estado e onde começa a do Agente? Na Atividade de Inteligência, as teorias do Direito que tratam o tema são estendidas além dos limites... e aquém do bom senso.

Fontes:

http://www.dn.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=4821911

https://news.vice.com/article/former-cia-officer-detained-in-europe-while-trying-to-clear-her-name-in-rendition-case

http://www.thestar.com/news/world/2015/10/08/italy-says-ex-cia-agent-convicted-in-rendition-case-detained-in-portugal.html

http://www.wsj.com/articles/ex-cia-agent-detained-in-portugal-over-2009-kidnapping-conviction-in-italy-1444324821

https://twitter.com/sadiso