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terça-feira, 22 de março de 2016

Bruxelas sofre duro impacto terrorista do Daesh

Na manhã de hoje Bruxelas foi o alvo escolhido para mais um atentado terrorista do Daesh. A barbárie do terrorismo fundamentalista continua fazendo vítimas em nome de uma bizarra interpretação do Alcorão.

Imagens dos supostos terroristas em ação no Aeroporto Zaventem.

Foram registrados ataques focalizados nas infraestruturas críticas de transporte público: o aeroporto internacional e o sistema metroviário. As informações preliminares processam pelo menos 34 mortos e quase duas centenas de feridos.

Aparentemente os ataques no Aeroporto de Zaventem foram perpetrados por três terroristas ligados ao Daesh. Dois seriam suicidas, e há buscas no momento pelo terceiro elemento. Não há informações acuradas sobre quantos terroristas teriam participado no ataque ao sistema metroviário.

Quase que diariamente há notícias de novos atentados terroristas sendo perpetrados, entretanto os alvos ocidentais são efetivamente os que mais repercutem na grande mídia. No caso de Bruxelas, charmosa cidade belga que respira o Direito Internacional e é sede da OTAN, não poderia ser diferente.

Sobreleva notar dois aspectos recentes da luta contra o Daesh potencialmente relacionáveis aos fatos de hoje: em primeiro lugar, a prisão em Bruxelas na última semana do foragido terrorista do massacre parisiense, Salah Abdeslam; e em segundo lugar o vazamento da suposta lista de contatos do Daesh que teria sido revelada por um dissidente do grupo.

Em 10/03/2016, tratamos neste blog sobre o que denominei de "ISIS Leak". Ali advertia:

"Se a suposta lista for real, há muito trabalho a ser feito, e deve ser feito rapidamente. De outra forma, se me permitirem uma brevíssima análise preliminar de tendências, vislumbrando a impossibilidade de proteger seus ativos suicidas, é presumível que um elevado número de ativações precoces de ataques do Daesh ocorra em curto prazo. Eis um risco que país algum pode se admitir." 

Espero estar errado, posto que as constantes críticas da mídia especializada (por vezes injustas) aos serviços de Inteligência se revelariam razoáveis se os perpetradores dos atentados de hoje estivessem relacionados na missiva interceptada.

Fato é que a Bélgica está em alerta total contra o terrorismo fundamentalista desde os atentados de Paris. Trata-se de uma nação preparada, equilibrada e desenvolvida. É muitas vezes menor do que o Brasil em extensão territorial, e sua é população bem menor. O nível de cidadania é muitas vezes superior. Bruxelas é uma cidade organizada e moderna. Não havia um grande evento internacional iminente. E ocorreu o que presenciamos hoje.

Por aqui, sequer se consegue aprovar a execução de um concurso público para preencher cargos na ABIN...

Fontes:

http://soldadodosilencio.blogspot.com/2016/03/desertor-do-isis-vaza-lista-com-22000.html

http://edition.cnn.com/2016/03/22/europe/brussels-explosions/index.html

http://noticias.terra.com.br/mundo/explosoes-em-bruxelas-deixam-pelo-menos-13-mortos-e-35-feridos-no-aeroporto,4c29896d2e1704060b5b7812fa90130ecjlxmqj0.html

http://epoca.globo.com/tempo/noticia/2016/03/atentados-em-bruxelas-expoem-vulnerabilidade-da-europa-terrorismo.html

quinta-feira, 10 de março de 2016

Desertor do ISIS vaza lista com 22.000 nomes/contatos de terroristas

Como podemos chamar isso? ISIS Leak!

Matéria do Pravda.ru e do portal Terra, replicando a mídia internacional indicam que o vazamento de uma lista com 22.000 nomes e contatos de terroristas do ISIS, entregue por um desiludido desertor que se tornou descrente na causa do fatídico califado. Seria um "sonho de consumo" dos serviços secretos envolvidos na luta contraterrorista, que potencialmente verificam nesse instante a veracidade dos dados. 

Imagem da suposta lista apresentada pelo desertor do Daesh

Obviamente, existe a possibilidade de ser mais um subterfúgio de contrainteligência, uma aplicação prática de técnicas de desinformação, uma cortina de fumaça do Daesh, com o objetivo de ganhar tempo, confundir e desviar esforços das Agências de Inteligência.

Se a suposta lista for real, há muito trabalho a ser feito, e deve ser feito rapidamente. 

De outra forma, se me permitirem uma brevíssima análise preliminar de tendências, vislumbrando a impossibilidade de proteger seus ativos suicidas, é presumível que um elevado número de ativações precoces de ataques do Daesh ocorra em curto prazo. Eis um risco que país algum pode se admitir.

Aparentemente, houve uma acentuada queda no poderio e na influência territorial do Daesh. Tomara Deus (e porquê não Allah?) que tal fato seja real e constitua um duro revés as frequentes barbáries do terrorismo internacional fundamentalista. 

Fontes:

http://www.pravdareport.com/news/world/asia/syria/10-03-2016/133767-intelligence-0/

http://g1.globo.com/mundo/noticia/2016/03/jihadista-decepcionado-entrega-lista-com-nomes-de-22000-membros-do-ei.html

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

O estigma de Adléne Hicheur: um terrorista no Brasil?

No dia 8 de Janeiro de 2016 a Revista Época apresentou uma matéria exclusiva intitulada "Um Terrorista no Brasil", nomeando Adléne Hicheur. Diante do contexto internacional e dos eventos que se anunciam no Brasil, a matéria recebeu imenso destaque. Na esteira da publicação, uma enxurrada de notícias do portal G1, Folha de São Paulo, Estadão e da UOL perseguiram as sombras do passado de Hicheur.

Quem é Adléne Hicheur?

Adléne Hicheur tem 39 anos, é franco-argelino, doutor em física nuclear, especializado em partículas elementares, e detinha uma carreira destacada até 2009. Trabalhava no Centro Europeu para Física de Partículas em pesquisas relacionadas ao CERN/LHC - o grande colisor de hádrons. 

Hicheur: será um efêmero lapso de fundamentalismo - com tenebrosas consequências vitalícias?

A radicalização, o processo e a condenação

Hicheur foi condenado pela justiça francesa a cinco anos de prisão por planejar atentados terroristas, tendo cumprido sua pena, sendo detido em 2009 e libertado em 2012. As provas contra Hicheur decorreram de interceptações telemáticas realizadas pelos órgãos de persecução penal e contraterrorismo franceses. A acusação de planejar atentados terroristas foi fundamentada no fato de Hicheur ter frequentado fóruns na internet e se comunicado por emails sobre planos terroristas com aliciadores de fundamentalistas islâmicos relacionados a Al-Qaeda.

Carreira no Brasil

Aparentemente, a despeito de sua condenação por terrorismo na França, Hicheur gozava de prestígio junto a seus colegas do CERN, que teriam após sua soltura intermediado sua inclusão como pesquisador convidado no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas do Ministério da Educação do Brasil no início de 2013. O CBPF/ME é atualmente dirigido por Ronald Shellard. 

Diante de destaque inicial nas contribuições de Hicheur as pesquisas nacionais, e este passou a ser bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e posteriormente foi contratado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em um edital supostamente direcionado.

A detecção de Hicheur no Brasil

Um vídeo com baixa exposição na mídia brasileira, realizado por uma equipe de TV internacional em 2014 em mesquita situada no Rio de Janeiro, onde um homem não identificado que se encontrava no local demonstrava apoio veemente ao Daesh, acabou por indiretamente expor Adléne Hicheur as autoridades nacionais.

O curioso é que aparentemente Hicheur nada tem a ver com o fato, sequer estava no local no momento, embora o frequentasse por motivos óbvios - e presume-se que todos que por ali passaram acabaram investigados a seu tempo. 

E efetivamente o passado de Hicheur não resiste a uma pesquisa no Google para torná-lo um alvo tendente a ser investigado - é o estigma vitalício de sua potencialmente efêmera radicalização.

A repercussão oficial

A Folha de São Paulo publicou declarações de Aloísio Mercadante, atual Ministro da Educação, repercutindo a revelação do passado de Hicheur e sua atual posição na UFRJ:

"...É lógico que deveria ter sido bloqueado. Uma pessoa que foi condenada por prática de terrorismo não nos interessa para ser professor no Brasil. Não temos nenhum interesse nesse tipo de pessoa. [...] Devemos nos preocupar. Não consta que o Brasil seja alvo de ação de terroristas, mas podemos ser palco de uma ação terrorista. Especialmente num episódio como a Olimpíada [...] Acho que a universidade está aguardando medidas legais cabíveis e eu acho que procedem num caso como esse..."

Ao seu tempo, o Ministro da Justiça José Eduardo Cardozo se pronunciou:

“...Eu não posso dar detalhes daquilo que efetivamente se coloca, por isso a questão está sendo estudada do ponto de vista jurídico pelo Ministério da Justiça, pelo Itamaraty, pela Casa Civil para que possamos ter uma definição a respeito...”

A versão de Hicheur

O Estadão publicou trechos de uma carta atribuída a Hicheur, que apresenta sua denegação dos fatos que lhe foram imputados em relação ao terrorismo internacional fundamentalista, sendo o suposto destinatário da missiva a CBPF/ME:

"...Fui preso pela polícia francesa no fim de 2009 e a única justificativa de minha detenção foram minhas visitas aos chamados websites islâmicos subversivos. Fui privado da minha liberdade por dois anos apenas com base nisso. Nenhum outro elemento foi apresentado contra mim [...] a acusação não sustentou o caso com fatos e evidências [...]O caso foi fabricado, usando-se partes pinçadas de uma conversa virtual com o objetivo de mostrar que haveria uma tentação de considerar a violência como solução para conflitos internacionais em países árabes e muçulmanos como Iraque ou Afeganistão..."

O portal Opera Mundi da UOL publicou entrevista fantástica com Adléne Hicheur. Destaco um único trecho imputado ao franco-argelino:

“...Não há segredo em meu currículo. Eu cheguei ao Brasil com um visto válido, convidado por um centro de pesquisas. Meu caso é muito conhecido, é passado. Eu sou cientista mas eles me carimbaram como terrorista ao reciclar de forma vergonhosa uma história velha...”

Este é um ponto crucial em toda esta história.

O apoio de colegas brasileiros a Hicheur

Diante da polêmica envolvendo seu controverso passado exposta nacionalmente, os colegas brasileiros de Hicheur se manifestaram em seu apoio. Ronald Shellard afirma ter informado ao Ministério das Relações Exteriores dos problemas de Hicheur na época do convite do CBPF/ME:

"...Liguei para o Itamaraty e alertei sobre todos os fatos, porque não queria trazer um problema para cá. Ele veio por volta de 2013 e trabalhou dois anos aqui. Fez trabalhos relevantes e seu grupo estava muito satisfeito, tanto que depois conseguiu um emprego na UFRJ. Nossa posição é de que nos envolvemos com uma pessoa cujo desempenho era elogiado aqui e no Cern [...] Há coisas sobre as quais não se faz alarde, mas que também não se escondem. Agora, com a exposição na mídia, ele está numa posição complicada [...] O Adlène tornou-se um caso célebre porque as evidências (da prisão) foram baseadas apenas na internet. As acusações só foram formuladas na época em que foi solto, aí houve um julgamento sobre a pena que ele já tinha cumprido..."

O coordenador de Física Experimental de Altas Energias do CBPF/ME, Ignacio Bediaga, defende Hicheur:

"...Durante esses quase dois anos de trabalho conjunto, o dr. Hicheur, além de realizar um trabalho excepcional, mostrou um comportamento moral e ético exemplar, bem como uma grande disponibilidade de colaborar com o grupo [...] A perda de um pesquisador fora de série, como o Adlene, irá prejudicar em muito o andamento das pesquisas que estávamos desenvolvendo dentro da cooperação científica que temos com o Cern...”

Não se pode alegar surpresa...

O notório portal especializado em inteligência Stratfor publicou no longíquo dia 21 de Outubro de 2009 matéria intitulada The curious case of Adléne Hicheur, da qual cito breves trechos:

"...According to French authorities, the network's demise led Hicheur (who was already being monitored by French authorities) to establish contact over the Internet with members of AQIM, al Qaeda's North African franchise. He reportedly communicated with AQIM using encrypted e-mails sent under a pseudonym, but the security measures were apparently foiled by the French authorities, who may have planted software on Hicheur's computer that allowed them to see his encrypted messages.[...]

According to French Interior Minister Brice Hortefeux, after monitoring Hicheur's communications with AQIM for some time, French authorities determined that he posed a threat and decided to arrest him. Hortefeux would not provide a list of targets Hicheur was apparently planning to attack, stating only that "the investigation will reveal what were the objectives in France or elsewhere." Thus far, it has not been shown that Hicheur posed an imminent threat, but it is unlikely that authorities would have arrested Hicheur unless they were sure they had enough evidence to prove the case against him in court. Some of this evidence may have been linked to a large withdrawal of cash Hicheur recently made from a bank account. Halim Hicheur has told the press that his brother had withdrawn 13,000 euros (about $19,500) to buy some land in Algeria, and he believes that the French government mistakenly thought the money was going to support AQIM.

While the French government has officially refused to discuss the potential targets Hicheur reportedly discussed with AQIM, the European press has been filled with such reports. According to the British newspaper The Telegraph, Hicheur had discussed conducting a bombing attack against a refinery belonging to the multinational oil company Total. (While a refinery may seem like an ideal terrorist target, causing substantial damage at such a physical plant is more difficult than it would seem — especially with a small improvised explosive device. Refineries often experience accidental fires or small explosions, and those events rarely affect the whole facility.)..."

O jornal britânico Daily Mail também noticiava com alarde sobre as ligações terroristas de Hicheur em 11 de Outubro de 2009. A matéria era relacionada a prisão/acusação que pesava sobre Hicheur e a seus trabalhos no Rutherfor Appleton Nuclear Research Centre, sendo intitulada "Fears Al Quaeda-linked scientist was planning nuclear attack on UK after MI5 learn he worked at top-secret British lab":

"...A brilliant young nuclear scientist who was arrested in France last week over alleged links to Al Qaeda had worked for a top-secret British nuclear research centre. Last night fears were growing that Dr Adlene Hicheur – who was a researcher for the Rutherford Appleton Laboratory in Oxfordshire for a year – could have been planning a nuclear attack in the UK.

The French government said yesterday that the arrest of Hicheur, 32, and his brother Dr Halim Hicheur, 25, could have averted a terrorist atrocity. They were seized after an 18-month investigation by French anti-terrorist police hours before Adlene Hicheur was due to travel to the laboratory where he now works at, CERN, the European Organisation for Nuclear Research near Geneva..."

Uma breve opinião

Se há algo que é imanente e indiscutível nas variadas teorias da Atividade de Inteligência, trata-se do caráter preditivo/preventivo que perpassa suas ações e objetivos. 

Independentemente do nível de eficácia da ressocialização posterior à pena cumprida e do arrependimento do condenado, tudo sobre Adléne Hicheur no Brasil poderia não ter acontecido por um único aspecto: o caso envolvendo o brilhante cientista era há muito tempo mundialmente conhecido. 

Se as autoridades brasileiras pretendiam evitar o risco, deveriam ter analisado as premissas de contratá-lo sob as condições que estavam postas e informadas, conforme Shellard ratifica. A oratória reacionária de Mercadante é no mínimo demagogia barata diante do desinvestimento imposto pelo governo as atividades de inteligência desta nação, que sequer conseguem a autorização para contratar em concurso público de provas e títulos há anos. Permanecemos estagnados com porosas e descontroladas fronteiras, sofremos com a falta de consciência situacional das autoridades políticas e em estado de penúria na Atividade de Inteligência.

Como todos nós, Adléne Hicheur fez uma escolha na vida que lhe imputou pesadas consequências. Do que se tornou público do processo judicial em que foi condenado, Hicheur, em determinado momento, escolheu um caminho de radicalização terrorista. Seu intento cognitivo preparatório foi devidamente rechaçado pela força da atividade de inteligência e da lei francesa. A França leva a sério a Atividade de Inteligência.

Parece verdade que Adléne Hicheur tenha se arrependido de sua potencial e efêmera radicalização. Mas permanecerá estigmatizado, escravo da falha em sua biografia, embora já tenha cumprido suas sentença judicial e seja incontestável sua competência como cientista. 

O julgamento social dos homens é decerto mais severo, preconceituoso e desproporcional que as penas impostas pela lei. Hicheur deveria ter considerado tal fato quando cogitou comunicar-se com terroristas fundamentalistas em fóruns da Internet, onde elucubrava fantasias de esvaziar o sangue de nações infiéis.

Fontes:

http://epoca.globo.com/tempo/noticia/2016/01/exclusivo-um-terrorista-no-brasil.html

http://oglobo.globo.com/mundo/professor-da-ufrj-investigado-por-terrorismo-elogiado-por-colegas-18446526

http://atarde.uol.com.br/brasil/noticias/1738771-em-carta-fisico-da-ufrj-nega-laco-com-terrorismo

http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2016/01/1728373-mercadante-diz-que-brasil-deveria-barrar-fisico-que-falou-em-atentados.shtml

http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2016/01/brasil-estuda-o-que-fazer-com-franco-argelino-condenado-por-terrorismo.html

http://epoca.globo.com/tempo/noticia/2016/01/professor-condenado-por-terrorismo-foi-unico-candidato-em-concurso-da-ufrj.html

http://operamundi.uol.com.br/conteudo/reportagens/42948/adlene+hicheur+estou+sendo+cacado+pela+midia+por+um+crime+que+nao+cometi.shtml

http://www.dailymail.co.uk/news/article-1219569/Revealed-Al-Qaeda-suspect-worked-UK-laboratory.html

https://www.stratfor.com/weekly/20091021_curious_case_adlene_hicheur

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

A vida e morte de Khasiev: um agente russo infiltrado no Daesh

Magomed Khasiev (a.k.a. Yevgeny Yudin). - decapitado pelo Daesh em um dos últimos vídeos da maldita barbárie incontida promovida pelos fundamentalistas via Internet.

 Cenas dos piores capítulos da humanidade.

Este é o nome que instituiu uma polêmica na atuação do serviço secreto russo no cenário do combate contra o Daesh na Síria e no Iraque. Mas antes de discorrer sobre a vida e a morte de Khasiev, é mister uma breve introdução a temática, em homenagem aos novos leitores.

Ainda em Agosto de 2015, muito antes do atual status da campanha russa na Síria contra o Daesh, publicamos texto sob o título "Jihadistas para exportação - ou como o FSB tem enviado fundamentalistas chechenos para preencher as fileiras do ISIS". Baseado em informações de fontes abertas que bebiam da fonte do jornalismo investigativo de Elena Milashina, a publicação em questão destaca uma estratégia ardilosa do serviço secreto russo: incentivar os fundamentalistas chechenos ao êxodo mortal que engrossava as fileiras do Daesh.

Aqui faço breve pausa em ode à bravura de Elena Milashina.

Poucos tem a coragem de discordar crucialmente do pensamento dominante da Rússia vivendo lá. Não julgo nenhum sistema político/econômico/social perfeito, mas o direito de se levantar contra o sistema é necessário, quando este se revela injusto. Como já dissemos anteriormente, alguns corajosos padeceram ao tocar os mesmos sinos que Milashina ora retine poderosamente.

O raciocínio decorrente do estratagema adotado pelo FSB era um tanto óbvio, embora caótico e mal (cruel). Se você pode enviar seu inimigo ideologicamente motivado e perigoso para um mortífero exílio voluntário em um cenário de guerra, excluindo um pária agitador de seu estado federado separatista, você está se livrando de um problema.

Ainda não havia a intervenção militar russa na Síria quando tratamos do tema, o que decerto adiciona alguns graus de perversão ao contexto macabro que se deslinda: fundamentalistas chechenos (russos, de acordo com a federação) sendo enviados a guerra na Síria pelos meios do FSB, onde são posteriormente bombardeados pelo estado da arte da tecnologia militar russa.

Aparentemente o recrutamento de Khasiev pelo FSB seguiu a mesma lógica, com um final ligeiramente diferente.

Matérias do Daily Mail e do portal Catholic.org destacam a vida do agente morto em ação. Khasiev se tornou órfão aos nove anos de idade, sendo adotado por parentes chechenos. Aos 10 anos, se convertou ao islã. Estudou Direito. Em 2014, foi indiciado em uma investigação por posse de drogas e relações com traficantes. Supostamente Khasiev teria confessado em uma gravação ter feito um acordo com o FSB para evitar a persecução penal.

O jornalista russo Anton Naumlyuk relatou ao Daily Mail sobre Khasiev:

"...Anton Naumlyuk, a journalist from Radio Svoboda, said: 'In summer 2014 (he) was caught by FSB people having drugs on him. Khasiev was sent to ISIS via Turkey. From there he was in touch with the FSB and passed information about those who were intended to go to Syria - and who had already got there [...] The last time he passed information about a student of a medical college.'..."
 
 
Há também uma transcrição em inglês das últimas palavras de Khasiev antes de sua decapitação: 
 
"...During all this time I contacted FSB of Russia five times and passed information about six brothers. And when I contacted FSB the last time, I passed information about brother who studied in a medical institute.
 
During the last contact, Shamil [the fixer] told me to wait. And I understood that I had to wait for further instructions.But I couldn't w ait or pass information any further because I was caught and completely exposed by officials of the security service of the caliphate..."

Evidentemente é possível que a vida e morte de Khasiev sejam também um fruto da propaganda do Daesh, no intuito de desmoralizar o FSB. A antítese é possível, entretanto improvável diante do que se sabe historicamente sobre o desenvolvimento das ações do serviço secreto russo. Lietvinenko que o diga.

O portal russo Tass informa o ponto de vista do líder checheno Ramzan Kadyrov. Em resumo, é culpa da CIA e Khasiev não era um agente do FSB:

"...Magomed Khasiev’s murder is a propaganda campaign of the Satanic gang and its patrons from among the Western intelligence agencies. We have no grounds for saying that that he was an intelligence officer. There is every likelihood that he was lured into IS ranks by deceit," Kadyrov wrote on his social network page.

"Upon arrival, having seen the true face of bandits, he could - either privately or in a telephone conversation - to express his opinion about them. Probably, that was what cost Magomed his life. We may say with some degree of confidence that the CIA’s hand was at work here," the Chechen leader said..."

 
Várias foram as oportunidades em que me recordo de um dogma clássico da polemologia: a primeira vítima na guerra é a verdade. A verdade real sobre a biografia de Khasiev já está perdida na polêmica da nova guerra fria.

Eis uma verdade inquestionável, intocada pela guerra: em suas bárbaras campanhas midiáticas, o Daesh continua a chocar a civilização, promovendo uma odiosa retrospectiva das cenas dos piores capítulos da humanidade.

Fontes:

http://soldadodosilencio.blogspot.com/2015/08/jihadistas-para-exportacao-ou-como-o.html

https://www.catholic.org/news/international/asia/story.php?id=65711

http://www.mirror.co.uk/news/world-news/new-jihadi-john-isis-release-6943049

http://www.dailymail.co.uk/news/article-3344214/The-Russian-spy-beheaded-countryman-orphan-recruited-secret-service-caught-drugs.html

http://tass.ru/en/politics/841646

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

PF prende contrabandistas de pedras preciosas... e urânio!

Na última semana a Polícia Federal realizou a "Operação Soldner", no combate a uma quadrilha internacional de contrabando de recursos minerais sediada no Brasil, dentre os quais pedras preciosas e urânio. É o destaque de matérias do G1, Veja, Estadão, dentre outros.

Recentemente tratamos sobre a porosidade das fronteiras na América Latina.

Aparentemente um dos líderes da organização criminosa é o alemão Heiko Helmuth Emil Seibold, radicado em Goiânia, casado com uma brasileira. 

O curioso é que Seibold já apareceu há muito tempo nos radares da inteligência e segurança nacionais. Foi acusado de recrutar brasileiros como mercenários para empreiteiras de segurança em zonas de conflito no já longínquo 2005, juntamente com outro alemão, Frank Guenter Salewski. O destino dos mercenários tupiniquins era  a então pujante guerra no Iraque.

Semiótica holywoodiana para mercenários...

Eis o trecho da matéria do G1:

"...A organização criminosa é dividida em dois grupos. O primeiro era responsável pela comercialização ilegal das pedras preciosas. Já a outra parte seria composta por autônomos e pequenos empresários que comercializavam, mediante fraude, títulos da dívida pública e moeda estrangeira, em transações financeiras envolvendo bancos venezuelanos. Os investigadores suspeitam que o comércio de moedas e títulos estaria vinculada à lavagem de dinheiro do grupo...."

Eis trecho relevante da matéria da Veja:

"...No decorrer das investigações, os policiais federais descobriram que, além das remessas do minério, a organização também era especializada em enviar pedras preciosas, principalmente diamantes. Os carregamentos eram enviados para Europa e de lá eram distribuídos para Israel e Dubai. A quadrilha era sediada em Goiânia com filiais em Minas Gerais, Distrito Federal, São Paulo, Pará, Pernambuco e Tocantins.

Dos acusados que tiveram a prisão temporária decretada, cinco foram detidos e outros cinco estão foragidos. Entre os que são procurados há dois estrangeiros: o marroquino com cidadania francesa Baruk Pilo e o alemão Heiko Helmuth Emil Seibold, que é casado com uma brasileira e mora em Goiânia. Os nomes e as fotografias da dupla foram enviados para a Interpol para que uma ordem de captura internacional seja expedida..."

Obviamente a simples menção a palavra "urânio" no mesmo contexto de "contrabando" e "terrorismo transnacional" conclama grandes atenções da mídia. Entretanto, as aplicações militares da exploração de urânio não se limitam unicamente a complexa produção de artefatos nucleares - o urânio empobrecido já foi amplamente utilizado em blindagens e projéteis de alta perfomance, por exemplo.

Se o interesse específico era o urânio com finalidades nucleares de enriquecimento, creio que o destinatário final não seriam organizações terroristas, mas sim nações que pleiteiam tecnologia nuclear e sofrem embargos à aquisição das matérias primas. 

Outro destaque interessante nas matérias é a referência a um esquema que traficava tantalita por conexões escusas na Bolívia e na Venezuela. Outro mineral com largo emprego militar em equipamentos de engenharia complexa - aparentemente, não faria muito sentido para organizações terroristas. Os bárbaros do Daesh, por exemplo, demandam emprego imediato de meios, não desenvolvimento científico de longo prazo em ligas metálicas especiais.

Diante de tais reflexões, que decerto caracterizam como hipóteses, a operação da quadrilha de Seibold soa muito mais como uma covert action de algum serviço de inteligência adverso, empregando um tradicional mercenário como cabeça de ponte, do que qualquer outra coisa...

No Brasil temos excelentes profissionais de inteligência e segurança, qualificados e capazes para o cumprimento adequado da missão - mas aqueles burocratas que detém os fatores reais de poder insistem em não empoderar tais serviços com recursos humanos, materiais e legais adequados as suas funções precípuas. 

Há pelo menos 15 anos ininterruptamente Seibold, Salewski, Pilo e outros tantos eventuais associados podem exercer seus negócios suspeitos no Brasil, com parcos controles. Aparentemente, Seibold não se sentiu incomodado mesmo depois de ter sido investigado em 2005, certo?

Até que ponto temos condições efetivas de monitorar as ações e empreendimentos suspeitos de estrangeiros em nossa continental nação?

Ainda mais premente questionar: até que ponto há interesse em criar condições de trabalho para os serviços de Inteligência e Segurança no Brasil?

Fontes:

http://soldadodosilencio.blogspot.com/2015/11/risco-iminente-porosidade-dos-controles.html

http://g1.globo.com/goias/noticia/2015/11/pf-combate-comercio-ilegal-de-pedras-preciosas-em-go-df-e-5-estados.html

http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/policia-federal-desmonta-quadrilha-especializada-em-contrabando-de-uranio/

http://brasil.estadao.com.br/noticias/geral,pf-apura-trafico-de-uranio-para-grupos-extremistas,10000003033

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft0802200507.htm

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Risco iminente: A porosidade dos controles e fronteiras da América Latina


Eminentemente preditiva por natureza, na atividade de inteligência é imprescindível analisar riscos com fito a mitigar ameaças. Desconheço quem diga o contrário.

 Tríplice fronteira: tem gente que acha que o Brasil só tem uma...

Análise de riscos constitui uma importante ferramenta para a mitigação de ameaças e obviamente não é uma ciência exata em nenhuma esfera de atividade do ser humano. Riscos, ainda que minimizados pelos múltiplos fatores incidentes em sua análise ponderada, não devem ser ignorados pelos decisores. 

Mormente por questões culturais, não há uma cultura difundida de contigência e mitigação de ameaças baseadas em metodologias de análise de risco no Brasil, embora haja um incremento nos últimos anos nas ciências relacionadas a administração para a adoção de tais boas práticas. Pois bem. Se na iniciativa privada, marcada pelo dinamismo da sobrevivência mercadológica ainda não temos uma cultura de análise e mitigação de riscos estabelecida em sólidos alicerces, quiçá na burocrática (viés pejorativo) e por vezes esquizofrênica Administração Pública...

Eis o ataque assertivo ao ponto crítico: há um risco iminente, óbvio e diário em nosso subcontinente, que não se limita as questões que asseveramos em recente postagem sobre o "governo de conto de fadas" que vivenciamos - trata-se da porosidade dos controles e fronteiras da América Latina, agravada pela parca/inexistente atuação conjunta dos potenciais controles de segurança e inteligência entre as nações.

Os princípios que fundamentam a presente análise estão postos diante dos olhos de todos. As questões geográficas e biológicas não demandam sequer explicação, basta a mera lembrança: há fronteiras extensas e despovoadas, em biomas com condições severas (selvas tropicais, desertos de altitude, planícies alagadas, pampas patagônicos...). Questões políticas entre as nações sulamericanas não contribuem sobremaneira: multiplicam-se conflitos ideológicos, e há ainda episódios de conflitos territoriais (v.g.: Essequibo), além da incompetência, corrupção e complacência amplamente disseminadas em estruturas institucionais (quando existem).

Diante de tais premissas ao argumento central, resta patente que não se trata de casuísmo - mas é ainda necessário descer a concretude de alguns casos recentes. Brevíssimo emprego de fontes abertas demonstrará o plano geral a pertinência da análise ora conduzida, em sucinta lista:
  1. A Reuters destaca o tráfico de seres humanos (no caso concreto, Sírios em busca de refúgio) em uma rota que perpassa praticamente  toda a América Latina e o Caribe (Brasil inclusive!). Aparentemente, foram detidos por acaso: faltou um registro de vacina de febre amarela.
  2. O portal Terra informa que uma das suspeitas de perpetrar atentados na França passeou recentemente pelas terras sulamericanas, inclusive causando problemas. Sim, passou impune e livremente pelo paraíso tupiniquim.
  3. O El Deber boliviano e o G1 afirmam que três australianos tentaram ingressar em voo da Gol Linhas Aéreas com explosivos em sua bagagem de mão. A origem do voo era Santa Cruz de la Sierra, enquanto o destino era o aeroporto de Guarulhos/SP. O controle que detectou o fato ocorreu no aeroporto de Viru-Viru. Fosse despachada a bagagem, o que presume-se ter ocorrido no atentado contra o avião russo na península do Sinai, restaria improvável sua detecção.

Não defendo sobremaneira que se cerrem as fronteiras transnacionais como alguns ousam propalar em seus fundamentalismos. Vozes nesse sentido exsurgiram na Comunidade Européia chocada com os atentados recentes que se perpetuam. Proibir é diferente de controlar. É imprescindível controlar adequadamente, com interações efetivas de segurança e inteligência, os fluxos fronteiriços.

Enquanto o mundo reconhece essa necessidade e os riscos, bem pautados pela matéria do The Japan Times em nosso caso particular, o governo brasileiro sanciona lei para dispensar controles prévios constituídos historicamente que, decerto, poderiam auxiliar a execução de políticas de segurança e inteligência. Ressalte-se que não foram ainda devidamente especificadas as nações privilegiadas pela benesse. Em nossa "exótica" política externa, presumo que não serão sequer nações que dispensam tratamento recíproco aos brasileiros.

Situações especiais exigem medidas especiais. E potencialmente, as análises de risco devem ser submetidas a uma revisão extraordinária em tais circunstâncias.

Fontes:

http://soldadodosilencio.blogspot.com/2015/11/brasil-governo-do-conto-de-fadas-versus.html

http://www.reuters.com/article/2015/11/20/us-france-shooting-usa-idUSKCN0T820420151120

http://noticias.terra.com.br/mundo/europa/suspeita-de-participar-de-atentados-em-paris-esteve-no-brasil-diz-equador,4235d36db2352ef2c22fdf7bf5b2fdfa9s5frw2d.html

http://www.eldeber.com.bo/santacruz/detienen-australianos-dinamita-viru-viru.html


http://g1.globo.com/mundo/noticia/2015/11/australianos-sao-impedidos-na-bolivia-de-viajar-com-dinamite-para-o-brasil.html

http://www.japantimes.co.jp/news/2015/11/20/world/paris-attacks-heighten-security-fears-2016-rio-olympics/#.VlIA024vnMx 

http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/olimpiadas/rio2016/noticia/2015/11/dilma-sanciona-lei-que-permite-isentar-visto-de-estrangeiros-nas-olimpiadas.html

sábado, 21 de novembro de 2015

Brasil: Governo do conto de fadas versus terrorismo (ou como estamos pseudo-preparados...)

A despeito dos inúmeros alertas de especialistas que se dedicam diariamente a polemologia, ao estudos das relações internacionais e do fenômeno do terrorismo, a incrível capacidade técnica multidisciplinar da atual presidente da República garante: o Brasil está longe do foco do terrorismo.

Levanta a mão quem tem um histórico duvidoso e não sabe do que estamos falando!

Matéria do portal 24/7 apresenta os argumentos de Rousseff, que supostamente detém um "histórico" para tratar do tema:

"...A presidente Dilma Rousseff disse não estar muito preocupada com a possibilidade de atos terroristas no Brasil, apesar do potencial que as Olímpiadas 2016 representam para este tipo de ação por parte de grupos extremistas. "Estamos muito longe [do epicentro dos atentados mais recentes]", disse, citando os ataques registrados em outubro em Ancara e os da sexta-feira (13), em Paris.

Apesar da afirmação, a presidente Dilma reconheceu que o Brasil "não está completamente protegido", sendo necessário que o Congresso Nacional acelere a votação da lei anti-terrorismo que se encontra em tramitação. Dilma, que está Europa participando de uma reunião da cúpula do G20, destacou que o terrorismo está muito concentrado na Europa, inclusive por suas redes e seus fornecedores (de armas e explosivos)
..."

A equipe formada pela chefe do executivo concorda em gênero, número e grau com a avaliação de sua líder. É o que revela matéria do G1, citando as palavras de José Eduardo Cardozo:

"...Nós permanecemos na mesma atuação que tivemos. Nós tivemos contato com os órgãos de inteligência internacional e posso afirmar a vocês que o Brasil está plenamente preparado para um excelente padrão de segurança nessas olimpíadas", disse o ministro.“O Brasil não tem muitos casos [de terrorismo], mas isso não afasta a importância de acompanhar toda a situação mundial e de tomarmos todas as medidas necessárias", continuou.

Cardozo citou como como exemplo de segurança em grandes eventos as ações do ano passado, durante a Copa do Mundo. Para ele, a segurança na Copa foi muito bem avaliada e o Brasil vai repetir o êxito nos jogos do Rio no ano que vem.

“Recordo que tivemos já para a Copa do Mundo todo um trabalho de interação com as polícias internacionais no desenvolvimento de uma matriz de responsabilidade no nosso país que agregou não só as forças do Ministério da Justiça, mas também do Ministério da Defesa, na perspectiva de termos um trabalho sempre na área de inteligência e na execução de medidas de segurança com relação a questão do terrorismo. Essa mesma matriz se repetirá agora nas Olimpíadas e nós permanecemos na mesma atuação", afirmou o ministro..."

No Rio de Janeiro, uma das cidades mais violentas do mundo, que não consegue investigar os autores dos homicídios que ali ocorrem e nem pagar para enterrar oficialmente os policiais que morrem em serviço, o discurso oficialóide da equipe de especialistas em contraterrorismo é o mesmo. Eis o destaque da fala de José Mariano Beltrame ao Sportv: 

"...O terrorismo sempre foi, desde o primeiro evento, a preocupação número um. A gente sempre se trabalhou com essa possibilidade. Até podemos achar que o Brasil não tem história com esses terroristas, mas sempre trabalhamos com essa possibilidade. Existe toda uma estrutura preparada para isso. Posso dizer que nós hoje estamos prontos - garantiu o secretário..."

Há uma coleção imensa de estudiosos sérios que discordam de tantas avaliações estúpidas e infundadas. A Olimpíada terá como sede uma das cidades mais violentas do mundo, onde impera a corrupção e o despreparo, e há inúmeros exemplos do amadorismo do governo federal e estadual no tratamento de temas muito menos complexos que a ameaça terrorista internacional.

Uma das únicas instituições que detém mínima confiabilidade para se expressar com propriedade sobre os riscos que despontam em brevíssimo prazo é o Exército Brasileiro, assim como a Força Aérea e a Marinha. Entretantos, todos estão sucateados pela incompetência e o descaso de uma série histórica de  ministros amadores, despreparados, corruptos e mal intencionados, que refletem com perfeição as vicissitudes do atual governo federal e seus antecessores. 

A ABIN também foi terrivelmente mal tratada e subjugada por intenções escusas da péssima administração federal, convivendo diariamente com o câncer da politização que assola os órgãos de Inteligência. Não detém quadro de recursos humanos suficiente. Não detém meios legais para atuar adequadamente. Não detém recursos orçamentários para fazer o mínimo.

Vivemos sob o comando de um governo de conto de fadas, que já se provou pseudo-preparado em qualquer uma das ciências que lhe for exigido atuar. Clamo aos que discordam e eventualmente leiam esse texto que provem o contrário, sem malabarismos socialóides expúrios, pedaladas fiscais e contabilidades/estatísticas criativas.

A única esperança dos brasileiros é contar com a sorte, com o Deus "brasileiro"... obviamente, teremos o sacrifício diário de nossos profissionais de segurança e inteligência - e a ajuda competente de órgãos de inteligência de outras nações que tratam com profissionalismo as ameaças reais que a histórica demonstra iminentes.

Não se trata de pessimismo ou alarmismo. Se trata de competências e preparo.

Fontes:

http://www.brasil247.com/pt/247/mundo/205455/Dilma-diz-que-Brasil-est%C3%A1-longe-do-foco-do-terrorismo.htm

http://g1.globo.com/politica/noticia/2015/11/cardozo-diz-que-brasil-esta-preparado-para-excelente-seguranca-na-olimpiada.html

http://sportv.globo.com/site/programas/rio-2016/noticia/2015/11/secretario-garante-que-rio-esta-pronto-contra-terrorismo-nos-jogos-olimpicos.html

http://olimpiadas.uol.com.br/noticias/2015/11/19/brasil-nao-esta-preparado-para-evitar-ataque-na-rio-16-dizem-especialistas.htm

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Atentado terrorista assola Paris

Terrível atentado terrorista nesta sexta-feira (13/11/2015) assolou a capital da França, vitimando pelo menos 308 pessoas, com 128 fatalidades- suposições preliminares informam que a autoria da barbárie é atribuída a grupos vinculados ao ISIS.


Pelo menos oito terroristas com motivações fundamentalistas islâmicas detonaram bombas e dispararam armas automáticas contra alvos civis em Paris em pelo menos sete locais centrais da cidade luz, incluindo o Stade de France, onde ocorria amistoso entre a França e a Alemanha com a presença do presidente francês François Hollande, que em pronunciamento a nação decretou estado de emergência e fechou as fronteiras francesas.

É possível interpretar que as ações foram orquestradas e apresentaram alto grau de organização em relação a proporção do número de atores hostis, o que maximizou o número de vítimas e dificultou a atividade reativa das forças francesas. Todas as informações são preliminares, baseadas em fontes abertas e na cobertura inicial da CNN e do Corriere della Sera, e demandam confirmações posteriores.

Atenção à nação. Nos eventos que pretendemos executar durante a Olimpíada de 2016 no Rio de Janeiro, esse é o tipo de ação que se poderia prever, diante do apelo midiático. Münich é um exemplo histórico. Permaneceremos incautos e crentes na teoria do Deus brasileiro? Já não basta ser o homízio típico de terroristas consagrados mundialmente?

Fontes:



sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Terroristas ameaçam Argentina

No final de outubro a Direção Geral de Inteligência Criminal do Ministério da Segurança da Argentina emitiu um alerta sobre a possibilidade de atentados terroristas contra dois shoppings argentinos.


A origem do alerta seriam representações diplomáticas argentinas. Os supostos autores da ameaça seriam vinculados ao grupo terrorista Ansar Dine, com atuação no Mali, que de acordo com algumas versões detém ligações com a Al Qaeda (enquanto outros lhe imputam conexões com o ISIS).

A despeito do histórico de terrorismo em território argentino, não é muito normal tal tipo de informação ser veiculada em largo espectro na mídia. A eventual motivação específica de atingir centros comerciais na Argentina por um grupo fundamentalista islâmico com baixa atividade fora de suas origens no Mali também não resta evidente. Entretanto, jamais deve-se menosprezar a errática aquisição de alvos "infiéis" por grupos terroristas fundamentalistas.

Supostamente, a presidente Kirchner já havia declarado que o país sofrera ameaças do ISIS. Essa é a mesma distinta senhora extinguiu a SIDE argentina, que respondia pela Inteligência de Estado, a lá Collor em '90. A extinção da SIDE ocorreu na esteira do deprimente espetáculo mórbido que teve seu auge no suspeito falecimento do promotor Nisman, atribuído em certa medida ao persona non grata de Cristina, "Jaime" Stiuso, ex-chefe da inteligência hermana. Curiosamente, tudo ocorre quando há eleições na Argentina, que salvo melhor juízo, pela primeira vez na história terão segundo turno. 

Não é que eu não confie em você, Cristina. É que eu não confio em ninguém! O lado bom da história é que as ameaças não se confirmaram até o presente momento.

Fontes:

http://www.clarin.com/politica/Exclusivo-emiten-alerta-amenazas-terrorista_0_1458454335.html

https://twitter.com/moreira_enzo/status/660114086164897792/photo/1?ref_src=twsrc%5Etfw

http://boainformacao.com.br/2015/10/31/argentina-confirma-ameaca-de-bombas/

http://www.telesurtv.net/news/Alertan-sobre-posibles-atentados-terroristas-en-Argentina-20151031-0011.html

http://www.infobae.com/2015/10/30/1766140-ansar-dine-el-grupo-terrorista-mali-que-se-unio-al-estado-islamico


domingo, 1 de novembro de 2015

A maior catástrofe aérea russa

A queda do Airbus A321  russo da companhia Kogalymavia na península do Sinai no Egito é a maior tragédia aérea da história da Rússia. A fatalidade assolou 217 passageiros e 7 tripulantes, conforme informações da agência Sputnik.


Como em todo acidente aeronáutico, amplas são as possibilidades do que pode ter ocorrido, e a devida investigação dos fatos culminará em uma explicação adequada para a tragédia.

Relatos não confirmados indicam que a amplitude do sítio dos destroços indica que a aeronave se desintegrou no ar, o que de forma meramente precária e não conclusiva poderia ser compatível com um ataque terrorista. Matéria replicada no portal Terra afirma citando fontes oficiais russas que fotos de satélite apresentam um sítio de destroços com mais de 16 quilômetros quadrados de extensão.

A priori a possibilidade de terrorismo não pode ser descartada - assim como todas as outras possibilidades. A teoria terrorista emerge imediatamente de um fato: a motivação para uma eventual ação do gênero por parte de grupos bárbaros como o ISIS é real e significativamente aumentada após a intervenção russa na Síria. As ameaças nesse sentido tem sido constantes, e nas últimas semanas foram indicadas em postagens neste blog.

O terrorismo internacional sempre apostou em atos ilícitos contra sistemas aeronáuticos, em virtude do impacto mundial de tais alvos e infraestruturas críticas. Inúmeros são os exemplos trágicos de tal estratégia na história moderna. De fato, uma facção do ISIS atuante no Egito reivindicou ter causado a queda do avião - o que pode ser puro oportunismo propagandístico diante do advento da tragédia.

Análises prematuras tendem a fracassar em suas conclusões. A guarda dos serviços de contrainteligência russos já está alta há tempos, se é que em algum momento da história esteve baixa. Condolências as famílias das vítimas de mais uma terrível tragédia aeronáutica.

Fontes:

http://soldadodosilencio.blogspot.com.br/2015/10/terroristas-lancam-obuses-contra.html

http://soldadodosilencio.blogspot.com/2015/10/fsb-impede-dois-atentados-terroristas.html

http://br.sputniknews.com/mundo/20151101/2615479/moscou-cairo-investigam-catastrofe-aerea-russa.html

http://noticias.terra.com.br/ciencia/espaco/fotos-tiradas-do-espaco-facilitam-buscas-no-local-de-queda-de-aviao-no-egito,78c67bad814b82b0bb65d700e5061a9bbz1fmqbc.html


quinta-feira, 29 de outubro de 2015

MI5 alerta diante de possíveis ataques terroristas do ISIS

Andrew Parker tem ratificado sistematicamente o risco de ataques terroristas do ISIS contra alvos britânicos - em recente discurso, o chefe do MI5 afirma que a ameaça atual ao Reino Unido é a maior de toda sua carreira. 


Matéria do The Guardian destaca as palavras de Parker em defesa de tecnologias de vigilância em massa que capacitem a inteligência no combate ao terrorismo, diante da possibilidade de alterações nos poderes investigativos do governo:

"...We do not seek sweeping new intrusive powers in that legislation, but rather a modern legal framework that reflects the way that technology has moved on, and that allows us to continue to keep the country safe. [...] It may not yet have reached the high water mark, and despite the successes we have had, we can never be confident of stopping everything [...] We are seeing plots against the UK directed by terrorists in Syria; enabled through contacts with terrorists in Syria; and inspired online by Isil’s  sophisticated exploitation of technology. [...] It uses the full range of modern communications tools to spread its message of hate, and to inspire extremists, sometimes as young as their teens, to conduct attacks in whatever way they can. [...] Those providers rightly want to maintain the privacy and security of their customers’ data – but they also have an obligation, and I would argue an ethical responsibility, to work with law enforcement and other agencies to prevent their services being used for the purposes of serious crime and terrorism. [...] But I hope that the public debate will be a mature one, informed by the three independent reviews, and not characterised by ill-informed accusations of ‘mass surveillance’, or other such lazy two-worded tags...”

Parker tem repetido sistematicamente que vários planos terroristas foram desmascarados recentemente, sendo pelo menos seis no Reino Unido e outros em alvos ultramarinos, com grande auxílio da exploração sistemática de metadados em modernos programas de inteligência.

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

John Brennan revoltado, CIA ridicularizada: graves repercussões de uma falha pessoal.

Ser diretor de uma grande Agência de Inteligência não é tarefa fácil. Se é verdade que barco singra o mar à imagem do exemplo de trabalho de seu capitão, a CIA deverá rever muitos aspectos de sua atividade em função do escândalo que envolve a falha pessoal de John Brennan.


Desde o dia 21/10/2015 quando tratamos em postagem a brecha que vitimou o diretor da CIA, muitas repercussões ganharam corpo em coleta OSINT. A CNN apresenta a revolta de John Brennan, em recentes declarações perante conferência na George Washington University:

"...I was certainly outraged by it [...] I certainly was concerned about what people might try to do with that information, [...] I was also dismayed at how some of the media handled it, and the inferences that were in there. [...] Although we are government officials, we also have family and friends, bills to pay, things to do in our daily lives, and the way you communicate these days is through the Internet, [...] The implication of some of the reporting was that I was doing something inappropriate or wrong or a violation of my security responsibilities - which was certainly not the case. [...] What it does is to underscore just how vulnerable people are to those who want to cause harm, [...] We really have to evolve to deal with these new threats and challenges..."

Resta claro o esforço de Brennan em desvincular sua gestão de uma atitude negligente na mentalidade de contrainteligência ou incapacidade pessoal, vinculando o caso a uma oportunidade de estudo das atuais ameaças cibernéticas.

Quanto a primeira parte do argumento, duvido que seus pares desvinculem o escândalo pessoal de sua gestão profissional, embora por mera aparência possivelmente o façam. Pela segunda parte, concordo: é um caso a se estudar quando um suposto adolescente em manobra de engenharia social ganha acesso a uma "esquecida" conta de e-mail pessoal de um diretor da CIA, com informações sensíveis as suas atividades profissionais. 

Matéria da Associated Press destaca a relativa sensibilidade dos conteúdos acessados pelo hacker, conforme expresso no vazamento de documentos propalado pelo WikiLeaks, que incluem temas relativos ao Irã e aos métodos de tortura aplicados pela CIA: 

"...The WikiLeaks organization posted material Wednesday from what appears to be CIA Director John Brennan’s personal email account, including a draft security clearance application containing personal information. [...] The documents all date from before 2009, when Brennan joined the White House staff; before that, he was working in the private sector. Aside from the partially completed clearance application, none of the documents appears to be sensitive.

The documents include a partially written position paper on the future of intelligence, a memo on Iran, a paper from a Republican lawmaker on CIA interrogations and a summary of a contract dispute between the CIA and Brennan’s private company, the Analysis Corporation, which had filed a formal protest after losing a contract dealing with terrorist watch lists..."

A matéria da AP também relata a postura oficial da CIA - condenação a conduta do hacker e apoio incondicional a vítima:

"...A CIA statement called the postings a “crime.” [...] "The Brennan family is the victim,” the agency said in an unattributed statement, in keeping with agency policy. “This attack is something that could happen to anyone and should be condemned, not promoted. There is no indication that any the documents released thus far are classified. In fact, they appear to be documents that a private citizen with national security interests and expertise would be expected to possess..."

Aparentemente o suposto hacker autointitulado "Cracka" não tem expectativas de permanecer anônimo, teme por sua vida. É o tema de nota do Daily Mail. Se eventualmente for mesmo um adolescente, deve estar no porão de pais que sequer conhecem dos fatos. Sinceramente, é difícil acreditar que seja um garoto de 13 anos o autor da façanha. Na guerra cibernética a verdade também é a primeira vítima.

Embora os esforços para diminuir a dimensão do escândalo sejam louváveis, é patente que há vários assuntos sensíveis que foram desvelados. A NDTV da Índia destaca a visão de Brennan em documento destinado a Obama sobre a interação entre terroristas afegãos, o governo Paquistanês e seu conflito com a Índia:

"...Pakistan uses terrorists as proxies to counter India's growing influence in Afghanistan, according to a set of documents released by WikiLeaks from the hacked personal email account of Central Intelligence Agency (CIA) director, John Brennan. The documents, released by the whistle-blower website and deemed classified by the CIA, contained reports on Afghanistan and Pakistan, and also ideas for US policy towards Iran.

Three days after Barack Obama was elected US President in November 2008, Mr Brennan wrote to him in a position-cum- strategy paper that Pakistan uses the Taliban to counter India in Afghanistan. "Pakistan's desire to counter India's growing influence in Afghanistan and concerns about US long-term commitments to Afghanistan increase Pakistan's interest in hedging its bets by ensuring that it will be able to have a working relationship with the Taliban to balance Indian and Iranian interests if the US withdraws," Mr Brennan wrote on November 7 in 2008.

At that time, Mr Brennan was a top foreign policy and counter-terrorism adviser to Mr Obama, then a president-elect. Mr Brennan was in the running to be CIA Director, but the post, however, went to Leon Panetta. In January 2013, President Obama nominated Mr Brennan as CIA Director. His views on Pakistan were disclosed in a 13-page executive summary of key findings and recommendations on Afghanistan and Pakistan.

Mr Brennan, in the summary, said efforts in the Federally Administered Tribal Areas (FATA) have been challenged by Pakistan's ambivalence and perhaps outright support for, the Taliban. "While the US Intelligence Community differs on the extent of the relationships, at least some elements of Pakistan's military and intelligence services appear to be ambivalent about the anti-Taliban and anti-militant mission in the FATA, in part due to their history of close ties to the Taliban in Afghanistan's conflict with the Soviet Union and Pakistan's use of militant proxies in its conflict with India," he wrote.

Coalition forces have won every major battle with Afghan insurgents, but these tactical successes have not resulted in a strategic victory, largely because insurgents are free to regroup in sanctuaries across the Afghanistan-Pakistan border, he wrote. On Wednesday, WikiLeaks began publishing documents from "Brennan's non-government email accounts". They appear to date back to 2007-09, when Mr Brennan worked in the private sector..."

Aposto que Putin deve ter rolado no chão de tanto rir. A agência Sputnik apresenta uma série de matérias explorando os documentos vazados do e-mail de Brennan. Fato é que a imagem da CIA restará mais uma vez ridicularizada em função da falha pessoal de um de seus principais atores.

A lição do crescente escândalo envolvendo Brennan e o "Cracka" é simples e fatal: ninguém jamais estará imune as preparações básicas de contrainteligência. Estivessem tais documentos criptografados adequadamente em um canal seguro para sua difusão, o eventual acesso não autorizado ao e-mail pessoal por um golpe de engenharia social seria potencialmente irrelevante.

Fontes:

http://soldadodosilencio.blogspot.com/2015/10/hacker-adolescente-teria-invadido-email.html

http://edition.cnn.com/2015/10/27/politics/john-brennan-email-hack-outrage/

https://www.washingtonpost.com/politics/wikileaks-publishes-cia-director-john-brennan-emails/2015/10/21/5e37c758-782c-11e5-a5e2-40d6b2ad18dd_story.html

http://www.ndtv.com/india-news/pak-used-taliban-to-counter-india-in-afghanistan-cia-chiefs-hacked-emails-1236355

http://sputniknews.com/us/20151022/1028905336/CIA-Operated-Within-US.html

http://www.dailymail.co.uk/news/article-3286700/Hacker-Cracka-got-CIA-Director-John-Brennan-s-AOL-account-believes-caught.html

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

FSB impede dois atentados terroristas na Rússia

O serviço secreto russo anunciou que impediu o segundo plano terrorista relacionado ao ISIS nas últimas duas semanas.


Reportes da Associated Press citando agências locais russas dão conta que a FSB teria detido um homem que planejava explodir um trem na região de Krasnodar no sudeste da Rússia, e em seguida se juntar ao ISIS na Síria. A matéria destaca que esta foi a segunda tentativa frustrada ostensivamente pelo FSB nas últimas duas semanas:

"...It was the second announcement of a terror arrest in Russia in two weeks. Security officials last week arrested several men in Moscow who were allegedly trained by the Islamic State group and were planning an attack on Moscow's public transit system..."

O primeiro plano terrorista impedido pelo FSB teria como alvo o transporte público de Moscou. Matéria do Sputnik afirma que há terroristas detidos na primeira empreitada que confessaram receber ordens do ISIS.

Diante análise que mais se assemelha a uma operação básica de matemática, resta evidente que a intervenção russa na Síria não restará impune as frequentes campanhas jihadistas. Destacamos recentemente tal questão no caso do lançamento de obuses contra a embaixada russa em Damasco. Resta saber até quando a contrainteligência russa terá sucesso em mitigar os riscos impostos pela guinada na política externa de Putin em relação ao ISIS e ao terrorismo internacional.

Em cerimônia recente no Kremlin, Vladimir Putin clama que pelo menos 20 planos terroristas contra alvos russos foram desbaratados pela contrainteligência russa em 2015, resultando na prisão de 560 militantes e morte de outros 112. No cenário interno da Rússia a maior probabilidade de um ataque terrorista provém de radicais islâmicos de territórios contestados, em especial a Chechênia e o Daguestão.

Fontes:

http://soldadodosilencio.blogspot.com/2015/10/terroristas-lancam-obuses-contra.html

http://www.usnews.com/news/world/articles/2015/10/19/russian-intelligence-says-it-foiled-terror-plot

http://www.hngn.com/articles/142291/20151021/putin-20-terrorist-plots-foiled-russian-intelligence-2015.htm

http://rushincrash.com/forces/in-the-kuban-assistant-driver-was-arrested-for-planning-terrorist-attacks-in-the-train/

http://br.sputniknews.com/mundo/20151019/2473405/russo-detido-terrorismo-confessa-receber-ordens-estado-islamico.html

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Terroristas lançam obuses contra embaixada russa em Damasco

Algumas previsões são realizáveis por qualquer criança bem informada: terroristas começam designar e atacar alvos russos em represália a intervenção na Síria, desfavorável as intenções de criação do famigerado "califado" do ISIS.


A explosão de obuses contra a embaixada da Rússia em Damasco no dia 13/10/2015 é talvez o primeiro movimento  terrorista amplamente divulgado contra alvos não militares russos. Altamente provável que não será um fato isolado. Entretanto, o lamentável atentado terrorista oferece uma oportunidade para comparar as repercussões do fato na comunidade internacional.

O norte-americano The New York Times publicou matéria noticiando os fatos, da qual destaco a análise finalística:

"...The attack on the embassy comes as Russia has intensified its airstrikes against Syrian insurgents. Both Russia and the United States say they are battling the Islamic State extremist group, also known as ISIS, ISIL or Daesh, but the two countries have taken opposite sides in the fighting between Mr. Assad and the other insurgent groups fighting him.

Russia’s airstrikes have mainly hit non-Islamic State groups, including the Nusra Front, Al Qaeda’s affiliate in Syria, as well as American-backed groups. Russian officials dismiss distinctions between the insurgent groups and say they are all terrorists and legitimate targets.

There were no immediate reports that any buildings in the Russian Embassy compound had been hit by the mortar shells Tuesday morning. Russian state news media said that the first shell struck 200 yards away. The Syrian Observatory for Human Rights, a monitoring group based in Britain with a network of contacts across Syria, said that ambulances were seen in the area afterward."

By afternoon, Syria’s state news media had not reported the attack, carrying only an item about Syrians’ demonstrating to thank Russia for its “seriousness in fighting terrorism” and to reject “any foreign interference in their internal affairs...”

Por sua vez, a agência Sputnik, na versão em português, também apresenta os fatos atinentes ao atentado, e resume sua análise quase como uma resposta:

"...Desde 30 de setembro último, a pedido do presidente sírio Bashar Assad, a Rússia iniciou ataques localizados contra as posições do Estado Islâmico na Síria, usando aviões Su-25, bombardeiros Su-24M, Su-34, protegidos por caças Su-30SM.Segundo os dados mais recentes, as Forças Aeroespaciais russas realizaram, desde o início da operação, cerca de 140 missões contra as posições dos terroristas, nomeadamente postos de comando, campos de treinamento e arsenais.

Além disso, os navios da Frota do Mar Cáspio lançaram 26 mísseis de cruzeiro contra os territórios controlados pelos jihadistas. A precisão de ataque é de cerca de 5 metros.Os alvos dos ataques são estabelecidos com base nos dados de reconhecimento russo, sírio, iraquiano e iraniano.

O embaixador sírio na Rússia, Riad Haddad, confirmou que as missões aéreas são realizadas contra organizações terroristas armadas, e não contra grupos da oposição política ou civis. Além disso, segundo ele, em resultado da operação da Força Aérea russa, já foi destruída cerca de 40% da infraestrutura do Estado Islâmico..."

Atenção: não coloquei o trecho específico que trata da notícia, posto que ali havia coincidência praticamente total. Já a dissonância das análises e opiniões sobre a atuação russa no conflito é mais do que óbvia.

O destaque final sobre o tema fica para o Sputnik, no dia seguinte aos eventos: Estados Unidos se recusam a condenar ataque contra embaixada russa na Síria. Sergei Lavrov, ministro russo, teria lamentado o fato de seus antagonistas americanos não condenarem  o ataque terrorista no Conselho de Segurança da ONU, se negando a assinar a declaração neste sentido proposta pelos russos. 

Prezados ianques: tudo indica que foi um atentado terrorista sim!

Denota-se que a propaganda política da "Nova Guerra Fria", ora aplicada na era da internet globalizada, é muito mais transparente: a tecnologia popularizada parece ter fundido boa parte da cortina de ferro.

Fontes:

http://www.nytimes.com/2015/10/14/world/middleeast/russia-syria-embassy.html?_r=0

http://www.ebc.com.br/noticias/internacional/2015/10/siria-projeteis-explodem-na-embaixada-da-russia-em-damasco

http://br.sputniknews.com/mundo/20151013/2412753/Siria-ataque-embaixada-Russia-Damasco.html

http://br.sputniknews.com/mundo/20151014/2430447/embaixada-atentado-condenacao-EUA-Russia.html

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

IMINT da Airbus aponta: Coalizão Árabe prepara mísseis Patriot no Iêmen

Ampliam-se os conflitos e polêmicas nos variados teatros de operações do Oriente Médio. 

A Coalizão Árabe que enfrenta rebeldes Houthis (de viés xiita) no Iêmen está preparando mísseis Patriot para a "defesa" de uma base avançada próxima a Marib, conforme IMINT da Airbus Defense and Space em análise veiculada no portal Janes.



Por sua vez, a Al-Jazeera informa que mais um casamento foi bombardeado causando várias mortes, o que chamou a atenção de observadores de direitos humanos da ONU. 

O porta voz da Coalizão Árabe nega que qualquer bombardeio tenha sido efetuado na área citada, adicionando ainda que as forças militares não iluminam alvos civis.

Fontes:

http://www.janes.com/article/55137/arab-coalition-deploys-patriot-to-yemen

http://www.aljazeera.com/news/2015/10/demands-probe-deadly-yemen-wedding-strike-151009181109645.html

http://www.aljazeera.com/news/2015/10/deadly-air-strike-reported-yemen-wedding-party-151008073704528.html

De Sousa (ex-CIA) detida em Portugal

Um dos mantras comuns na Atividade de Inteligência que são replicados nos livros e filmes ficcionais sobre o tema constitui verdade fora das páginas e telas: se durante ação clandestina o operativo restar exposto, terá pouca ou nenhuma ajuda, e normalmente será o fim de sua carreira.


E a realidade se aproxima da ficção nas exposições. É o caso de Sabrina De Sousa, citado pela Vice News, The Star e Diário de NotíciasThe Wall Street Journal destaca o polêmico caso que envolveu a agente e outros 25 colaboradores da CIA:

"...The case is part of a landmark ruling by an Italian court on the U.S. practice of abducting suspected terrorists and flying them to other countries for interrogation.

Ms. de Sousa is one of 26 Americans, mostly CIA agents, convicted in absentia in 2009 of taking part in the 2003 kidnapping Osama Mustafa Hassan Nasr on a street in Milan. The CIA and Italian police considered the cleric to be a recruiter for al Qaeda. He was sent to U.S. military bases in Italy and Germany before being moved to Egypt, where he was released without charges 14 months later. He said he had been tortured.

The Americans, none of whom has been in custody in Italy, were sentenced to five years initially. An appeals court lengthened the sentences to seven years. The sentences were upheld by Italy’s highest court in 2012..."
 

Nascida na Índia, Sabrina de Sousa é cidadã norte-americana e portuguesa. Ex-agente da CIA sob disfarce diplomático, foi condenada à revelia na Itália por participar do rapto do radical islâmico Abu Omar em 2003 na autoproclamada guerra contra o terrorismo. 

Enfim, o caso é um marco sobre as prisões clandestinas da CIA na Comunidade Européia durante a guerra ao terror.
 
De Sousa foi detida no Aeroporto de Lisboa, posto que contra ela pendia mandado judicial comunitário em função de sua condenação - tem 10 dias para evitar sua extradição de Portugal rumo a uma prisão italiana. 

Sabrina conhecia sua condição judicial precária. Teve motivos humanitários para se expor a eventual detenção: pretendia visitar a mãe doente na Índia. As autoridades portuguesas não mantiveram  a ex-agente em prisão preventiva - deverá se apresentar esporadicamente as autoridades portuguesas. 

Sabrina De Sousa alega inocência. Em sua conta oficial do Twitter, uma das informações é muito relevante para sua defesa: a CIA atuou em conjunto com a Inteligência Italiana em Milão. Nenhum dos operativos italianos foi condenado. 

Até onde vai a responsabilidade do Estado e onde começa a do Agente? Na Atividade de Inteligência, as teorias do Direito que tratam o tema são estendidas além dos limites... e aquém do bom senso.

Fontes:

http://www.dn.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=4821911

https://news.vice.com/article/former-cia-officer-detained-in-europe-while-trying-to-clear-her-name-in-rendition-case

http://www.thestar.com/news/world/2015/10/08/italy-says-ex-cia-agent-convicted-in-rendition-case-detained-in-portugal.html

http://www.wsj.com/articles/ex-cia-agent-detained-in-portugal-over-2009-kidnapping-conviction-in-italy-1444324821

https://twitter.com/sadiso

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Dos movimentos russos no Oriente Médio II: Nuances da "Nova Guerra Fria"

A cadeia de eventos do multifacetado conflito que assola a Síria tomou novas proporções com a intervenção direta da Rússia no teatro de operações: é tempo de rever os últimos movimentos russos no Oriente Médio, assunto de uma postagem há duas semanas neste blog.


Propositalmente abusarei do superpolitizado portal Sputnik, embora contextualizando-o com outras fontes. A razão é clara: abordar a política externa russa, a visão oficialmente difundida ao público na superpotência, vislumbrando sempre as ações nos teatros secundários do Leste Europeu e da Síria, no que creio que já podemos chamar de "Nova Guerra Fria".

Preclaro que a Rússia pretende fazer do suporte ao regime de Assad no teatro secundário da Síria contra o ISIS a maior demonstração de poder militar nas últimas décadas, adicionando a boa propaganda de combate ao fundamentalismo islâmico, de apelo mundial. Em contrapartida, acirrará o fundamentalismo islâmico em seus próprios territórios, aumentando o risco de tornar-se alvo primário de ataques jihadistas. Fiz uma postagem em 26/08/2015 sobre a exportação de fundamentalistas islâmicos pelo FSB, antes da intervenção direta da Rússia no conflito. Caramba, os amantes da vodka pensam mesmo em tudo!

Várias são as provas da estratégia de demonstração de poder na intervenção russa na Síria. Em 27/09/2015, a AFP noticiava a contínua expansão dos equipamentos militares russos remetidos diariamente por uma série de sortidas de seus impressionantes aviões cargueiros. A VKS tem implementado aeronaves e drones em suas suítes mais modernas nos bombardeios, além de clássicos anteriormente batizados em fogo que costuma exportar aos regimes de sua influência.

A Reuters noticiou em 28/09, durante a Assembléia Geral da ONU, a polêmica que se instaurou nas chefias executivas e altos ciclos estratégicos que norteiam o combate ao ISIS. A Rússia, o Irã e a coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos concordam absolutamente em derrotar o ISIS, e discordam parcialmente sobre o futuro do regime de Assad. 

A separação do pão sírio do pós-guerra é a celeuma que remonta a excelente matéria da BBC em 02/10/2015, da qual faço coro com ligeiras adaptações: 

1) aos Russos e Iranianos convém apoiar a continuidade do regime de Assad, o que decerto lhes garantiria influência geopolítica e belos contratos de reconstrução; 
2) aos Americanos Assad não merece prosperar, tampouco a frente Al-Nusra, intimamente ligada a Al Qaeda e que já impôs severas derrotas ao esforço (mínimo) de armar e treinar rebeldes sírios - permanecem ainda as questões que envolvem o Iraque recém desmobilizado;
3) na estratégica turca, Erdogan não tolera o ISIS, Assad e muito menos os curdos separatistas que pretendem formar seu próprio estado, embora estes combatam o ISIS;
4) para Israel, conter o ISIS e o aumento da influência iraniana no Oriente Médio é prioridade;
5) a Arábia Saudita teme a evolução do fundamentalismo islâmico em seu território, e pretende ver Assad deposto.

Em 06/10/2015, o Sputnik publicou matéria em que a ministra russa das relações exteriores, Maria Zakharova, afirma que seu país não teria ilusões quanto ao regime de Bashar al-Assad. A ambigüidade da política externa russa é proposital. Matéria da Reuters lança holofotes no tema pela declaração do ministro britânico Philip Hammond:

"...Parece um pouco de clássica guerra assimétrica russa -- você tem uma mensagem forte de propaganda que diz que você está fazendo uma coisa quando na verdade você está fazendo uma coisa completamente diferente, e quando desafiado, você simplesmente nega isso terminantemente..."

É um tabuleiro de xadrez tridimensional, muito complexo, com múltiplos atores e adversários, não? Estima-se que 250.000 sírios tenham morrido no conflito. Peões - descartáveis nas estratégias das superpotências. Após o auxílio russo, Assad tem declarado confiança na vitória sobre os terroristas.

A OTAN expandiu presença e operações em resposta a reanexação da Criméia pela Rússia. Matérias recorrentes do Sputnik em sua vertente de propaganda oficial indicam a preocupações de Putin e seus generais. Em 02/10/2015, noticiou a intenção do governo da Hungria de abrigar um novo Centro de Comando das Forças de Reação Rápida da OTAN. No mesmo dia publicou ainda sobre o iminente exercício militar da OTAN (ARRCade Fusion 2015) que terá lugar na Letônia. Em 03/10/2015 de forma jocosa tratou de um navio militar supostamente russo que teria passado ao largo de Mälmo, na Suécia, provocando alarido na mídia báltica.

Estrategicamente, no plano de guerra do Kremlim há uma necessidade premente de demonstrar suas capacidades militares de superpotência diante da evolução da presença da OTAN no Leste Europeu. As recentes invasões ao espaço aéreo turco por aeronaves militares da VKS empregadas no conflito sírio nada mais são do teste de tempo e atitude de reação de um membro OTAN. Sobre as ações da VKS em território sírio, vale a pena conferir a criteriosa cobertura do blog CAVOK.

A motivação russa de socorrer um aliado e cliente militar tradicional como a Síria de Assad é mera dissuasão, cortina de fumaça. Enquanto a propaganda russa demonstra que Putin pretende cooperar com Obama na guerra contra o ISIS, como induz matéria do Sputnik em 28/09/2015, o flanco oeste russo na fronteira com a Ucrânia está cada vez mais militarizado.

O teatro de operações na Síria contra o ISIS constitui um eclipse no real conflito que representa a "Nova Guerra Fria": a guerra civil ucraniana. Estado "colchão" entre os eixos de influência das superpotências, deslocados à leste após o fim da URSS, o conflito na Ucrânia ainda está longe de arrefecer - não há dúvidas que ali se concentram os esforços de Putin.

Particularmente, reitero minha opinião pessoal: se a intervenção russa colaborar para a destruição do ISIS, entendo válida, bem como outras que assim contribuírem. A omissão diante da ameaça ISIS não é uma opção viável.

Fontes:

http://soldadodosilencio.blogspot.com/2015/09/dos-movimentos-russos-no-oriente-medio.html

http://soldadodosilencio.blogspot.com.br/2015/08/jihadistas-para-exportacao-ou-como-o.html

http://www.brasil.rfi.fr/mundo/20150927-guerra-na-siria-pode-ter-guinada-com-envio-de-reforco-militar-da-russia-e-do-ira

http://noticias.r7.com/brasil/eua-e-russia-discordam-sobre-papel-de-presidente-sirio-na-resolucao-da-guerra-civil-28092015

http://br.sputniknews.com/mundo/20150928/2263488/Putin-Obama-cooperaca-terrorismo-combate.html

http://www.cavok.com.br/blog/bulgaria-vai-alterar-legislacao-para-permitir-que-a-otan-possa-patrulhar-o-seu-espaco-aereo/

http://br.sputniknews.com/mundo/20151002/2309978/Hungria-abrigara-Centro-de-Comando-das-Forcas-de-Reacao-Rapida-da-OTAN.html

http://br.sputniknews.com/mundo/20151002/2306879/letonia-quer-montar-palco-de-exibicao-da-otan-para-russia.html

http://br.sputniknews.com/mundo/20151003/2314959/suecia-navio-russia-susto.html

http://noticias.r7.com/brasil/chanceler-britanico-diz-que-russia-conduz-quotguerra-assimetricaquot-na-siria-04102015

http://noticias.r7.com/brasil/assad-diz-que-siria-e-seus-aliados-derrotarao-o-terrorismo-04102015

http://www.cavok.com.br/blog/russia-faz-novos-bombardeios-na-siria-misseis-de-cruzeiro-sao-empregados-pela-primeira-vez-desde-o-inicio-da-campanha-militar-contra-os-jihadistas/

http://br.sputniknews.com/mundo/20151006/2339107/russia-nao-tem-ilusoes-assad-insiste-legitimidade.html